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sábado, 11 de outubro de 2008

EVOLUÇÃO DO LIVRO

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS


EVOLUÇÃO DO LIVRO:
UMA QUESTÃO CULTURAL OU TECNOLÓGICA?



NEIFF OLAVO GOMES SATTE ALAM












EVOLUÇÃO DO LIVRO:
UMA QUESTÃO CULTURAL OU TECNOLÓGICA?


NEIFF OLAVO GOMES SATTE ALAM

Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade Católica de Pelotas, como exigência parcial para a obtenção de título de Especialista em Informática na Educação: ênfase em novos paradigmas do ensinar e do aprender na Universidade, sob a orientação do Professor Doutor Palazzo .

AGRADECIMENTOS

À genética da Latifa e do Argemiro, meus pais; à paciência da Paula, minha esposa; à existência do Neiffinho, meu filho, que aumentou meu futuro...


RESUMO


O presente trabalho não pretende responder a questão formulada no título, mas instigar uma discussão que poderá chegar a uma conclusão que não seja obrigatoriamente a que está proposta ao final. A questão mais interessante é que talvez a possibilidade de registrarmos nossa história, de forma mais próxima ao modo não-linear como funciona nosso cérebro, seja o caminho mais fácil para o entendimento do tema e viabilizar uma resposta.

ABSTRACT

With this work the author does not intend to answer the question in the title, but to instigate discussions which may arrive to conclusions that are not obligatorily the one that is proposed to the end. Perhaps the most interesting question is about the possibility to register our history on the nonlinear way, just as our brains work. Maybe the easiest way for the subject understanding and to make possible the formulation of a reply.

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da formação do homem, percebe-se uma tendência a deixar registros de todos os acontecimentos. Uma forma, talvez, de buscar a imortalidade através da história, deixando registrado o seu pensamento e a sua conduta no enfrentamento com o cotidiano.

No início deixava rabiscos nas paredes das cavernas e, aos poucos foi aprimorando estes registros. A qualidade do trabalho e a socialização dos símbolos permitia que mais pessoas pudessem entender o que havia escrito e poderiam, inclusive acrescentar novas idéias
.
A tecnologia utilizada dependia do conhecimento disponível. Aos poucos diferentes técnicas começaram a ser utilizadas de forma a aprimorar cada vez mais os registros escritos. Muitos séculos separam um método de outro, pois a transição sempre foi dificultada pelo hábito arraigado de uma ou outra forma de registros e dos materiais utilizados: placas de barro e de madeira, folhas de papiro em rolos, couro de animais em rolos ou não, folhas de pasta de celulose prensada (papel) e manuscritas, folhas separadas, isto é, não mais em rolos, até chegarmos ao livro que hoje conhecemos, impresso com tipos móveis inicialmente e atualmente com laser.

O próximo passo, o atual passo, é o do livro eletrônico, sem papel, mas em telas de vídeo.

Simultaneamente a esta evolução tecnológica ocorre uma adaptação a uma nova forma de registro não linear, somente possível em um livro eletrônico e bem de acordo com os processos mentais desenvolvidos por nosso cérebro.

Assim, a tecnologia sinalizou os caminhos culturais no que diz respeito a evolução do livro, deixando-o mais de acordo com a forma como pensamos e desprendendo o homem do aprisionamento em que se encontra na forma linear do livro impresso e dando um significativo passo para a inclusão do hipertexto e a conquista da não linearidade enveredando pelos caminhos conectados em rede.

O TEXTO E AS TECNOLOGIAS ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Estamos vivendo a era da leitura em papel. O livro, nesta conformação e com este material, predomina de tal forma a nossa leitura que dificilmente poderíamos imaginar uma forma diferente e que se adaptassem as exigências dos leitores.

Mas nem sempre foi assim. Os registros escritos tiveram seu início na pré-história quando eram feitos os desenhos no interior das cavernas relatando feitos e registrando a existência de animais. Com certeza, uma forma tão simples quanto era simples a vida destes homens pré-históricos.

Dentro daquilo que sinalizamos como história, trinta e cinco séculos antes da era Cristã, surgem os antepassados do livro de papel. Na Mesopotâmia, hoje o Iraque, foram encontradas mais de 500.000 placas de barro, com escritas cuneiformes, desenvolvidas pelos Sumérios. Nestas placas encontramos textos de vários tipos: comerciais, políticos e até religiosos. O trabalho destas placas era tão aprimorado que a primeira de cada série tinha o título do trabalho, o nome do escriba e o do proprietário. É importante o registro de placas deste tipo em Nínive, onde o rei assírio Assurbanipal reuniu uma enorme coleção até o ano 650 a.C., e as placas, também em escrita cuneiforme dos Hititas, na Anatólia.

Enquanto sumérios, babilônios, hititas e assírios utilizavam-se de placas de barro, os egípcios, aproximadamente 2000 anos a.C, desenvolveram as suas escritas em livros feitos de papiro, como mostra a foto acima. [1] Esta planta cresce espontaneamente no delta do Nilo e nas costas do Mediterrâneo. Os egípcios descascavam o papiro e comprimiam várias camadas de casca, produzindo uma espécie de folha de papel. Emendadas umas as outras, as folhas de papiro formavam uma longa tira que poderia ter até 44m de comprimento por 30 cm de largura. Na extremidade das tiras eram fixados cilindros de madeira, obtendo-se assim rolos de papiros. Para escrever em colunas estreita nesses rolos, os egípcios utilizavam uma pena feita de bambu. (Enciclopédia Delta Universal, v.9, p.4864, 1980)A escrita era denominada hieróglifo, sendo que o texto mais conhecido desta época (1800 aC) foi o Livro dos Mortos.

Os chineses, um pouco depois dos egípcios, utilizaram um sistema mais parecido com o dos babilônios, faziam seus livros em placas de madeira[1].

Ainda dentro desta fase em que os livros não eram impressos, os romanos utilizaram peles tratadas de carneiro, bezerro e cabrito para elaborarem seus textos que ainda tinham o formato de rolos como os papiros egípcios. Este material, umas espécies de pergaminhos finos, eram denominadas de velino. Somente no século IV é que os rolos começaram a ser substituídos por livros com formato parecido com o atual, eram denominados códices[2], passaram-se, então, 4000 anos das placas de barro da Mesopotâmia. Podemos considerar esta como uma etapa importante de registro de textos – placas de barro, placas de madeira, rolos de papiro e rolos de velino (pergaminho). Não havia, entretanto, sistema de livros impressos, esta etapa, dos livros impressos, tem um período de coexistência com os livros feitos a mão, a transição se deu durante um período de 3 a 4 séculos. Os chineses foram os primeiros a criar tipos para impressão, Os tipos utilizados eram feitos de barro cozido e a impressão era feita sobre papel, material que os chineses também já haviam inventado. Esses livros eram parecidos com os nossos livros modernos, mas nada indica que tenham sido levados à Europa antes da invenção da imprensa no Ocidente. Quando o primeiro livro foi impresso na Alemanha, a Europa descobriu uma novidade[3]. O livro impresso mais antigo que se conhece é o Sutra do Diamante, produzido na China[4] no ano 868 e é feito por sete folhas coladas que formam uma tira de 4,90m. Este livro encontra-se na Biblioteca Britânica, Londres.
CÓDICES

Códice florentino Códice tro-cortesiano ou Códice de Madri –
de origem Maia e provavelmente foi realizado no momento da chegada dos espanhóis à América Central.
Durante todos estes séculos o homem lutou por um aperfeiçoamento tecnológico na produção de livros. Utilizou os mais diferentes materiais – barro, madeira, folhas de papiro, pergaminho, e as mais diferentes formas de apresentação de seus textos – placas, folhas, rolos, códices. O objetivo era sempre o de transmitir e/ou armazenar uma informação, um conhecimento, um contexto. Cada obra apresentava sempre uma linha única a ser seguida; possuía uma ideologia, uma doutrina, uma tendência. O leitor obrigava-se a seguir esta linha até o final do livro, se o conteúdo o agradava ou mesmo estava de acordo com sua tendência ideológica, este material era guardado e sua manutenção garantida. Alguns mais altruístas mantinham estas obras em bibliotecas independentemente da natureza ideológica dos textos, como foi o caso da dinastia ptolomaica do Egito que reuniu grandes coleções na célebre Biblioteca de Alexandria, [1] A cultura grega do papiro floresceu extraordinariamente durante o período helenístico (séc. VII aC), após a queda do império de Alexandre o grande, (...) reuniram-se, assim, grandes coleções de obras escritas em papiro, como a célebre Biblioteca de Alexandria. (...) Alexandria conheceu um pujante comércio de livros, que continuou após o incêndio da biblioteca original, no século I aC.

ERA GUTENBERG

O século XV registra na Europa uma importante etapa da história do livro. Gutenberg desenvolveu um sistema de tipos de metal e uma forma mecanizada de imprimir livros, mesmo que tivesse conhecimento do trabalho de impressão com tipos de madeira dos chineses (provavelmente não tivesse este conhecimento) a sua tecnologia era muito mais apurada que a dos chineses. O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia[5].(abaixo uma página do Velho Testamento)
Entretanto, registra a História, que em muitos momentos os livros foram considerados como meios de divulgação subversiva e profana, interferindo na ordem pré-estabelecida por governos não democráticos e totalitários. De novo a questão da linearidade do livro – produzidos nas mais diferentes formas, facilitava o controle da produção dos textos, elaborando os que estariam de acordo com as tendências dos opressores governantes ou destruindo os que induzissem os leitores a apoiarem as idéias diferentes, então subversivas.

Alguns literatos em face desta circunstância, chegam ao exagero de identificar o livro, na forma como hoje se apresenta, como uma verdadeira “ditadura da linha”, mesmo que o leitor possa encontrar, como neste texto, por exemplo, notas ao pé da página, observações grifadas, indicações de outros livros e/ou autores, o que daria aos textos tradicionais uma tendência a fugir das linearidade imposta por esta forma tradicional de leitura e uma maneira de colocar os outros textos sugeridos como hipertextos.

Mais do que uma “ditadura da linha”, o livro está limitado por uma tecnologia que pode e dever ser, gradativamente, substituída por uma outra que dê sintonia à tendência de agilizarmos a leitura por caminhos não obrigatoriamente previstos, nem mesmo pelo autor, isto é, as tecnologias mais modernas poderão, de forma satisfatória, dar ao leitor a oportunidade de, segundo seu contexto (o do leitor), um rumo diferente ao texto original buscando, pelos links, os hipertextos que mais de enquadrem em sua forma de pensar sobre o tema original. Desta maneira o leitor não fica prisioneiro da “linha” imposta inicialmente pelo leitor que passaria a ser denominado “lautor”[6], uma simbiose de autor e leitor.

UM POUCO SOBRE GUTENBERG

GUTENBERG, Johann Gensfleish (1397 ?-1468) - Nascido na cidade de Mogúncia (Alemanha), no seio de uma família bastante próspera, é a ele que se deve a criação do processo de impressão com caracteres móveis - "a tipografia". Tanto o seu pai como o tio era funcionário da Casa da Moeda do arcebispo de Móguncia, sendo provavelmente ali que Johan aprendeu a arte da precisão em trabalhos de metal. Em 1428, Gutenberg parte para Estrasburgo onde procedeu às primeiras tentativas de imprimir com caracteres móveis e onde deu a conhecer a sua idéia. Nesta cidade terá, provavelmente, em 1442, impresso o primeiro exemplar na sua prensa original - um pedaço de papel, com onze linhas. Em 1448 voltou a Mogúncia. Aqui, em 1450, conhece Johann Fust, homem de dinheiro, que lhe terá emprestado 800 ducados, exigindo-lhe a participação nos lucros da empresa que então formaram e a que deram o nome de "Das Werk der Buchei" (Fábrica de Livros). A sociedade ganhou pouco tempo depois um novo sócio, Pedro Schoffer. Terá sido este que descobriu o modo de fundir e fabricar caracteres, aliando o chumbo ao antimônio, devendo-se a ele também uma tinta composta de negro de fumo. Mas é a Gutenberg que a história atribui o mérito principal da invenção da imprensa, não só pela idéia dos tipos móveis, mas também pelo aperfeiçoamento da prensa (a prensa já era conhecida e utilizava-se para cunhar moedas, espremer uvas, fazer impressões em tecido e acetinar o papel). Nos primeiros impressos então produzidos contam-se várias edições do "Donato" e bulas de indulgências concedidas pelo Papa Nicolau V. No início da década de 1450, Gutenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia de quarenta e duas linhas (em duas colunas). Com cada letra composta à mão, e com cada página laboriosamente colocada na impressora, tirada, seca e depois impressa no verso, parece quase impossível que alguém tivesse coragem para começar. Ao que parece Gutenberg estaria a imprimir trezentas folhas por dia, utilizando seis impressoras. A Bíblia têm 641 páginas, e pensa-se que foram produzidas cerca de trezentas cópias, das quais existem cerca de quarenta. Nem todas as cópias são iguais, tendo algumas no início de novos capítulos, letras pintadas à mão, em caixa alta. Os peritos reconhecem que a Bíblia foi impressa em dez secções, o que significa que Gutenberg deve ter possuído tipos suficientes para imprimir cerca de 130 páginas de cada vez.Mais tarde, em 1455, depois de realizada esta impressão, a sociedade desfez-se por diferenças de interesses e direitos, suscitando-se entre Fust e Gutenberg tal dissidência que a justiça teve que intervir. Como conseqüência do julgamento e como compensação pela dívida, Fust ficou com a impressora, os tipos e as bíblias já completas, ou seja, todo o negócio de Gutenberg. Terá sido também em 1455 o ano de publicação da "Bíblia de quarenta e duas linhas".

Assim como houve uma revolução fantástica da escrita cuneiforme feita em pedras nos primórdios da civilização, estamos vivenciando uma nova e não menos fantástica revolução quando se deslumbra o caminho da escrita eletrônica. Esta escrita estabelece uma vinculação adequada entre os procedimentos reais e lineares da presencialidade do livro impresso e a comunicação eletrônica e não-linear e virtual propostas pela informática.

Os conflitos esperados serão tão grandes quanto é grande a mudança imposta pela informatização dos meios de comunicação.



CONFLITOS REAIS NA ERA VIRTUAL

“O meio eletrônico torna muita (mas não toda) informação disponível a muitos (mas não a todos). Mas esta disponibilidade de informação é sempre, como toda e qualquer informação de conhecimento, também, um exercício de poder capaz de produzir hegemonias, excluir saberes e vozes e constituir novas hierarquizações de saber e poder. Para o meio eletrônico vale também o conceito de “saber-poder” de Michel Foucault (toda forma de saber é também e simultaneamente um exercício de poder). Examinar e criticar a informação eletrônica como um tal “saber-poder” é uma das tarefas cruciais do esforço para a utilização pedagógica do computador”.(Sérgio Bellei, 2002, pp.102-103)

A utilização pedagógica dos meios virtuais e eletrônicos de difusão do conhecimento/informação através de softwares educacionais torna-se uma exigência absoluta nas escolas regulares de todo o mundo. O verdadeiro paradoxo proposto por Bellei no texto apresentado, está na utilização necessária, por ser mais fácil, dos meios eletrônicos de captação de conhecimento/informação e o risco de abandonarmos os meios tradicionais relativo aos livros em bibliotecas, pois, no primeiro caso (livros eletrônicos), há uma limitação e de certa forma controle do que se lê, mas a informação é mais selecionada, no segundo caso, há uma liberação descontrolada de informação (lixos da Internet). Qualquer pessoa que tenha um modem e uma linha telefônica poderá incluir no acervo da Internet o que bem entender, por mais absurdo ou errado que seja, pois o controle de qualidade tem se mostrado insuficiente para separar o joio do trigo.

Cabe a Escola este papel, inicialmente equipando-se e formando um grupo de professores, pedagogos e especialistas em informática para compatibilizar os procedimentos pedagógicos necessários à construção do conhecimento dentro dos pressupostos da pós-modernidade, onde a não-linearidade parece se adequar à multimídia, hipertextos e outros caminhos da informatização.

Os educadores terão que preparar o terreno para que uma pedagogia relacional, eficiente e não mecanicista, possa prosperar. Para tanto serão necessários estudos cuidadosos dos meios de ensino/aprendizagem oferecidos pela mídia eletrônica.

A informação acumulada nas últimas décadas supera em muito toda a informação obtida pela civilização desde os últimos 5500 anos. Hoje, em razão disto, é necessário que se utilizem meios de obtenção desta informação, e respectiva transformação em conhecimento, mais eficiente e rápida. A informática oferece estes meios, mas têm que ser trabalhada de forma a impedir que a facilidade imposta pelos hipertextos e links promova dispersões na busca da construção de competências.

De qualquer sorte, a aplicação de softwares educacionais associados a uma utilização competente da Internet poderá viabilizar uma maior facilidade de aprendizado entre os alunos com diferentes velocidades ou oportunidades de obtenção de informação/conhecimento fora da escola: “...Os alunos melhor dotados em capital cultural e melhor acompanhados por suas famílias seguirão de qualquer maneira, seu caminho, seja qual for o sistema educacional. O alunos “médios”acabarão encontrando uma saída, ao preço de eventuais repetências ou mudanças de orientação. À sorte dos alunos em reais dificuldades é que se pode medir a eficácia das reformas.”(PERRENOUD, Construir as Competências desde a Escola, 1999, p.71)

CONFLITO ENTRE A LINHA E A REDE

“Nunca houve tamanha possibilidade de conhecimento e tamanha possibilidade de obscurantismo” Boris Ryback

Quando um professor adotar determinado livro para que seja utilizado por seus alunos durante o ano letivo, não estará limitando o conhecimento em qualidade e quantidade?

Não seria mais eficiente a utilização de livros eletrônicos, mais adequados a uma visão não linear do conhecimento?

Indicar (não adotar) livros tradicionais (de papel) associados a livros eletrônicos não seria o melhor caminho?

Responder a estas perguntas tem sido uma das maiores dificuldades para enfrentar-se esta transição que se apresenta entre a modernidade e a pós-modernidade; entre a visão linear e não-linear do ensino; entre as pedagogias diretivas, não diretivas e relacionais.

Os livros tradicionais - escritos de acordo com programas definidos, que tenham início, meio e fim, que se ajustem a um procedimento padrão, “bem-comportado”, dentro de uma metodologia “mecanicista” – tendem a limitar a criatividade do aluno e do professor, tornam exíguos os limites de conexão entre as disciplinas. Podem, entretanto, ser bem utilizados quando vários livros são indicados o que deverá facilitar a busca de novos conceitos ou dirimir as discrepâncias entre os diferentes textos.

“Grande parte do suposto poder do romance (e, poderíamos acrescentar, do livro em geral) depende da linha, desse movimento obrigatório e controlado pelo autor, que leva do início da frase ao ponto final, da margem superior à inferior, da primeira página à última”.(Coover, 1992, p.1 – citado por Bellei)
De tudo o que se disse, o mais significativo é a não-linearidade, pois que desencadeia todos os demais problemas e dá ao livro uma seqüência limitante. Tal problema pode ser resolvido quando se conecta uma série de textos da mesma disciplina e de outras disciplinas, se possível com outros professores. De qualquer forma, fica bem clara a dificuldade em utilizar-se um determinado livro, padronizando (limitando) o processo de ensino-aprendizagem.

Qual a melhor forma de trabalharmos este material de apoio – o livro tradicional? Como alterar um comportamento secular de adoção de livro? A resposta está, talvez, na utilização de um meio mais sofisticado que mantenha as vantagens do livro, qualificando-as, e não tenha as desvantagens deste. Parece-nos razoável a utilização da informática, construindo-se mecanismos eletrônicos mais apropriados e que transcendam o texto, utilizando o hipertexto. Trata-se do livro eletrônico, que não deverá substituir o livro tradicional, mas poderá ser o recurso que libertará o aluno e o professor dos textos limitados, fechados e, em muitos casos, ideologizados. O livro eletrônico amplia de tal forma a rede de informações, através dos links, que transforma a linha original de conteúdos em uma possibilidade, e não mais uma certeza, e a construção de conhecimento que se dará de forma criativa e mais contextualizada, pois serão seguidos os caminhos dos interesses do momento.

“ (...) a verdadeira liberdade de escapar da tirania da linha pode ser vista como sendo, agora, realmente possível, graças ao advento do hipertexto, escrito e lido no computador, no qual a linha na verdade não existe, a não ser que alguém a invente e implante no texto. (Coover, 1992, p.1)

Como o conhecimento disciplinar não poderá ser ignorado, pois as competências são construídas a partir destes, o livro eletrônico se torna um desafio ao professor que se valer deste meio. Nunca o professor foi tão importante e necessário como neste momento de transição para a pós-modernidade. Valer-se de meios eletrônicos, da Internet e das Redes de informação disponíveis, da globalização do conhecimento que se avizinha como a redenção do homem frente ao pragmatismo das teses econômicas e sociais ainda dominantes, passa a ser uma questão de “vida ou morte” de um novo homem construído para a igualdade, utilizando-se da tecnologia que, neste momento, vem se constituindo em instrumento de dominação.

O livro eletrônico poderá oferecer ao aluno a instantaneidade do hipertexto com a utilização de “links” que permitirão fugir das linhas tradicionais e retornar ao eixo do tema com a mesma segurança com que se saiu. Por outro lado, não se poderá abrir mão dos textos dos livros, que continuarão a ser importantes, principalmente se associados aos livros eletrônicos que permitirão um contínuo não linear, alternando momentos virtuais com contatos com o real e com o presencial, na figura do livro e do professor, respectivamente.

O único risco da implantação desta nova visão é fugirmos da “ditadura da linha” e nos afundarmos na “ditadura da rede”.Talvez a forma mais indicada para fazermos esta transição é evoluirmos para sistema onde o leitor dos textos e hipertextos contribuam na seqüência destes com o autor, surgindo o híbrido de ambos, o “lautor”, bem definido pela lógica de Wolfgang Isler (1980):

“Um texto qualquer pode resultar em leituras diversas, e nenhuma delas pode exaurir o potencial pleno do texto, porque cada leitor preencherá os vazios da sua própria maneira, excluindo assim várias outras possibilidades; ao ler, tomará suas próprias decisões a respeito de como o vazio será preenchido”.


LIVRO ELETRÔNICO: O FUTURO COMEÇOU HÁ SESSENTA ANOS



“...O que faz de um conteúdo ou um conjunto de informações um livro, é a maneira como o livro foi concebido desde Gutemberg. Os livros como entendemos hoje - com páginas, capa, orelha, sumário etc -, não desapareceria se não fosse tão importante manter suas características”.

“Se não, o que é um livro? É o conjunto de páginas de papel ou outro material unido entre si. Quer dizer, a página em si não desaparece por estar na Internet ou no papiro, ela continuará existindo para dar seqüência a um documento, para dar uma união. E estas páginas poderão conter textos, ilustrações ou música.” Bill Gates
A evolução tecnológica alcançou, em 1945, o ponto de partida para o livro eletrônico com o trabalho de Bush[7]. Este cientista construiu um aparelho, o MEMEX, que preconizava um sistema de rede, esta era a sua idéia, que se constituiria em uma verdadeira biblioteca (que é hoje para nós, a World Wide Web). Esta máquina de leitura proposta por Bush de longe se assemelha aos nosso computadores pessoais (PCs), mas foi o impulso inicial para uma nova proposta. “[...] Desenvolvido de forma que seu conteúdo possa ser consultado com velocidade e flexibilidade, e seu poder de memória possa ser aumentado com um suplemento extra, o Memex é um dispositivo no qual um indivíduo armazena todos os seus livros, registros e comunicações [...] Conteúdos de jornais, livros, revistas e artigos, poderão ser acessados ou comprados a partir de um grande repositório de informações”, descreveu Bush.

Memex - Memory Extension


A partir da idéia de que a soma dos conhecimentos, aumentando em um ritmo prodigioso, não encontrava contrapartida em relação à evolução dos meios de armazenamento e acesso aos dados e observando o funcionamento da mente humana, segundo ele, operando sempre por meio de associações, Bush imaginou e descreveu, de maneira detalhada, uma máquina capaz de estocar montanhas de informações, fácil e rapidamente alcançáveis. Tal engenho, concebido para suprir as "falhas da memória humana", através de recursos mecânicos, é considerado o precursor da idéia de hipertexto.

. O MEMEX seria, portanto, um sistema para mecanizar a classificação e a seleção de informação. "Além dos acessos clássicos por indexação, um comando simples permitiria ao feliz proprietário de um Memex criar ligações independentes de qualquer classificação hierárquica entre uma dada informação e uma outra" , explica Pierre Lévy[8]. O mais curioso é que esta invenção que nunca chegou a existir preconizava a conexão entre os textos e um caminho não linear, isto é, fundamentava a rede

Em 1963, Douglas Engelbart materializou o sistema inventado por Bush, através da criação de um programa hipertextual denominado "Augment"[9] . A utilização do termo hipertexto para exprimir o conceito de uma organização não linear das informações em um sistema informatizado foi, no entanto, creditada a Ted Nelson. "O hipertexto é pensado por Nelson como um mídia literário onde, a partir de textos, poderíamos abrir janela e janelas de janelas dando sobre mais e mais informações (textuais, sonoras e visuais)"[10] .
O hipertexto informatizado é na verdade uma rede de textos superpostos que permite ao usuário passar de um ponto a outro sem interromper o fluxo comunicativo. Segundo Fausto Colombo, esse recurso funcionaria como uma espécie de parêntese suspensivo e momentâneo, um modo de proceder em paralelo, que quebraria a ordem linear e seqüencial do discurso[11] . Pierre Lévy define esse tipo de escritura (ou leitura) como um conjunto de nós ligados por conexões (esses podem ser palavras, gráficos, imagens ou seqüências sonoras), sendo que cada nó pode conter uma rede inteira de associações [12].
A visualização mais comum do hipertexto é através de "janelas" dispostas na tela do computador (o ambiente Windows), ou links, palavras-chaves ressaltadas no texto, que remetem a outros textos. Deve-se esclarecer que a dimensão audiovisual também está presente no conceito de hipertexto, como destaca Pierre Lévy: "ao entrar em um espaço interativo e reticular de manipulação, de associação e de leitura, a imagem e o som adquirem um estatuto de quase-textos"[13] .
A escrita hipertextual segue a lógica do nosso pensamento, que está mais próxima da desordem do que de um percurso predeterminado. Bil Viola explica que com as novas tecnologias de comunicação "todas as direções são equivalentes, o espetáculo se torna a exploração de um território, viagem a um espaço de dados (...) Nós nos deslocamos num espaço de idéias, num mundo de pensamento e de imagens tal como aquele que existe no cérebro e não no projeto de um urbanista"[14] .
Seguindo essa mesma linha, Pierre Lévy argumenta que um texto já é sempre um hipertexto. "A metáfora do hipertexto dá conta da estrutura indefinidamente recursiva do sentido, (...) já que (todo texto) conecta palavras e frases cujos significados remetem-se uns aos outros, dialogam e ecoam mutuamente para além da linearidade do discurso..." [15]
A palavra virtual pode ser entendida, segundo Piere Lévy, em diferentes sentidos: na acepção filosófica é virtual aquilo que existe apenas em potência e não em ato; no uso corrente, a palavra virtual é empregada, muitas vezes, para significar a irrealidade, enquanto a "realidade" pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. A rigor, em termos filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual. É virtual, então, para o autor toda entidade "desterritorializada" capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem, contudo, estar ela mesma presa a algum lugar ou tempo em particular. No centro das redes digitais, a informação certamente se encontra fisicamente situada em algum lugar, em determinado suporte, mas ela também está virtualmente presente em cada ponto da rede onde seja pedida[16]).

Castells em seu livro "A Sociedade em Rede"[17] apresenta sua acepção para o termo virtual: a partir da idéia de que todas as formas de comunicação são baseadas na produção e consumo de sinais, conforme postulações teóricas de Barthes e Bauldrillard, entende que não há separação entre "realidade" e representação simbólica. Segundo Castells, se de acordo com o dicionário o virtual existe na prática e o real existe de fato, a realidade, como é vivida, sempre foi virtual por ser sempre percebida por símbolos formadores de prática. Para ele o inédito do sistema de comunicação organizado pela integração eletrônica de todos os modos de comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é a indução à realidade virtual, mas a construção da virtualidade real em que "a própria realidade (ou seja, a experiência simbólica/material das pessoas) é inteiramente captada, totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais no mundo do faz de conta, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora de experiência, mas se transformam na experiência."

A utilização pedagógica dos meios virtuais e eletrônicos de difusão do conhecimento/informação através de softwers educacionais torna-se uma exigência absoluta nas escolas regulares de todo o mundo. O verdadeiro paradoxo proposto por Bellei no texto apresentado, está na utilização necessária, por ser mais fácil, dos meios eletrônicos de captação de conhecimento/informação e o risco de abandonarmos os meios tradicionais relativo aos livros em bibliotecas, pois, no primeiro caso (livros eletrônicos), há uma limitação e de certa forma controle do que se lê, mas a informação é mais selecionada, no segundo caso, há uma liberação descontrolada de informação (lixos da internet). Qualquer pessoa que tenha um modem e uma linha telefônica poderá incluir no acervo da Internet o que bem entender, por mais absurdo ou errado que seja, pois o controle de qualidade tem se mostrado insuficiente para separar o joio do trigo.

Cabe a Escola este papel, inicialmente equipando-se e formando um grupo de professores, pedagogos e especialistas em informática para compatibilizar os procedimentos pedagógicos necessários à construção do conhecimento dentro dos pressupostos da pós-modernidade, onde a não-linearidade parece se adequar à multimídia, hipertextos e outros caminhos da informatização.

Os educadores terão que preparar o terreno para que uma pedagogia relacional, eficiente e não mecanicista, possa prosperar. Para tanto serão necessários estudos cuidadosos dos meios de ensino/aprendizagem oferecidos pela mídia eletrônica.

“O meio eletrônico torna muita (mas não toda) informação disponível a muitos (mas não a todos). Mas esta disponibilidade de informação é sempre, como toda e qualquer informação de conhecimento, também, um exercício de poder capaz de produzir hegemonias, excluir saberes e vozes e constituir novas hierarquizações de saber e poder. Para o meio eletrônico vale também o conceito de “saber-poder” de Michel Foucault (toda forma de saber é também e simultaneamente um exercício de poder). Examinar e criticar a informação eletrônica como um tal “saber-poder” é uma das tarefas cruciais do esforço para a utilização pedagógica do computador”.(Sérgio Bellei, 2002, pp.102-103)

A informação acumulada nas últimas décadas supera em muito toda a informação obtida pela civilização desde os últimos 5500 anos. Hoje, em razão disto, é necessário que se utilize meios de obtenção desta informação, e respectiva transformação em conhecimento, mais eficientes e rápidos. A informática oferece estes meios, mas têm que ser trabalhada de forma a impedir que a facilidade imposta pelos hipertextos e links promova dispersões na busca da construção de competências.

De qualquer sorte, a aplicação de softwers educacionais associados a uma utilização competente da Internet poderá viabilizar uma maior facilidade de aprendizado entre os alunos com diferentes velocidades ou oportunidades de obtenção de informação/conhecimento fora da escola: “...Os alunos melhor dotados em capital cultural e melhor acompanhados por suas famílias seguirão de qualquer maneira, seu caminho, seja qual for o sistema educacional. O alunos “médios”acabarão encontrando uma saída, ao preço de eventuais repetências ou mudanças de orientação. À sorte dos alunos em reais dificuldades é que se pode medir a eficácia das reformas.”(PERRENOUD, Construir as Competências desde a Escola, 1999, p.71)


INÍCIO DO LIVRO DO FUTURO


Com uma convivência que poderá se prolongar por muitos anos, talvez séculos, o livro impresso trava sua luta com o livro eletrônico. Parece que nossa cultura de leitores de livros impressos que já dura muitos séculos, começa a ceder para uma tecnologia que se amplia em uma vertiginosa curva exponencial. Ednei dos Santos em seu trabalho sobre o Livro Eletrônico manifesta-se da seguinte forma: “Chegando aos dias de hoje, a Revolução dos eBooks possibilitou democratizar o acesso a leitura a um nível ainda mais alto e de uma maneira nunca antes pensada. Centenas de livros e documentos importantes, como por exemplo a carta de Pero Vaz de Caminha, podem ser acessadas com um simples clique.
Batizados de eBook [ electronic book ], o Livro Eletrônico tem múltiplas funcionalidades que permitem acesso instantâneo a documentos e vem de encontro com as idéias de muitos escritores, de fazer com que suas obras cheguem a um número máximo de leitores.”
Todas as tecnologias e mais a evolução de nossa capacidade de entender a não linearidade que se impõe para utilização e aperfeiçoamento da informatização, permitirão, com existência de uma rede de computadores e a forma de acessar informações e conhecimento, uma interação entre os escritores e os leitores, que deixarão de serem passivos e passarão a interferir nos textos – são os chamados “lautores”, os usuários do futuro das bibliotecas virtuais.
“Quem já navegou obras compostas em hipertexto pôde constatar que elas apresentavam uma ampla variedade de links, que permitem ao leitor remeter-se à origem de determinados argumentos, ou visualizar mapas e fotos da região que o texto descreve. Ou mesmo ouvir a música produzida na época retratada. Mas ainda mais instigante é a possibilidade do leitor registrar suas impressões a respeito do texto lido, ao mesmo tempo em que pode consultar as impressões de um número indefinido de leitores. De forma definida, a postura aparentemente passiva do leitor é substituída por uma atividade leitora que deixa marcas visíveis sobre o texto”.[18]
Um dos primeiros mercados dos livros eletrônicos foram as Enciclopédias. A Enciclopédia Britânica, por exemplo, vendeu tantos CD-ROMs quanto a sua versão em papel, mas os livros lúdicos em geral não tiveram o mesmo sucesso. O por que deste insucesso, lá pelos anos 80, talvez tenha sua explicação na manifestação de Bill Gates[19]: “A maioria dos dispositivos usados eram muito volumosos e pesados para serem levados aos lugares, e os usuários eram forçados a acessar "a biblioteca eletrônica" de um modo inconveniente. O sistema requeria que a pessoa visitasse um "banco de livros", algo como uma máquina ATM - servidor - localizada em livrarias. Antes da difusão da Internet, não havia nenhum modo universal para carregar um novo material de leitura. Entretanto, o problema mais fundamental era a falta de uma tecnologia de exibição que poderia competir com o papel.”A maioria destes problemas, no entanto, está sendo resolvida agora. Com o aumento em investimentos na infra-estrutura de banda larga, a World Wide Web adquirirá maneiras até mais fáceis de prover uma e-biblioteca completa, oferecendo um modo incrivelmente flexível para entregar livros em bits.Também houve algumas inovações tecnológicas incríveis que farão com que muitos textos longos possam ser lidos mais facilmente em uma tela. A Microsoft desenvolveu uma tecnologia de exibição de fonte chamada ClearType que, manipulando o vermelho, o verde e o azul (sub-pixels que compõem uma tela de LCD), melhora a resolução em até três vezes. Esta tecnologia junto com o software de leitura MS Reader e hardwares como o MyFriend, faz com que a experiência de leitura em tela comece a rivalizar a leitura em papel.
Mas por que alguém preferiria um livro eletrônico a um livro em papel, embora sua legibilidade tenha sido melhorada?
Novamente Bill Gates oferece sua contribuição ao responder estas indagações:
Porque e-livros têm muitas outras vantagens:
· O leitor obtém entrega imediata de seu livro a partir de sua livraria na Web, e pode armazenar centenas de romances em um dispositivo do tamanho de um livro normal;
· Tecnologias de livros eletrônicos permitem que o leitor tenha uma biblioteca inteira em seu bolso;
· O leitor pode também manter em seu PC ou em um laptop moderno mais de 30.000 livros;
· O leitor terá um dispositivo auditivo sincronizado ao texto, assim poderá continuar a história em situações onde a leitura seja inconveniente. Como exemplo: enquanto estiver dirigindo.
A interferência da tecnologia sobre o ser humano transcenderá as mais otimistas expectativas, segundo Raymond Kurzweil[20]: “Por volta de 2030, um computador comum será mil vezes mais poderoso que o cérebro humano”, mais adiante: “o homem vai se fundir com a tecnologia. Teremos seres humanos com milhões de computadores nos cérebro, híbridos de inteligência biológica e não-biológica. Este tipo de ‘cyborg’ ainda se considerará humano.”
Nesta perspectiva, somente poderemos interagir com formas de escrita que estejam de acordo com a velocidade exigida pelo novo homem para acessar e consumir informações.

CONCLUSÃO

Lentamente vamos aproximando nossos procedimentos cerebrais aos procedimentos tecnológicos no que diz respeito à forma de registrarmos o conhecimento.

Nosso cérebro funciona de maneira não linear, mas, durante muitos séculos aprendemos, ensinamos e registramos o conhecimento linearmente. Desde as placas de barro dos Sumérios até o livro impresso dos dias atuais, o que estava escrito tinha um direcionamento único. Dentro destas tecnologias, aprendemos a utilizar cada manifestação escrita dentro dos limites do texto, no máximo buscando outros “livros” para dar continuidade ou divergir de algum pensamento.

Com a informatização e com o advento de uma rede de comunicação através dos computadores ( a Internet), desenvolveu-se um novo elemento, o hipertexto. Este novo elemento permitiu-nos invadir áreas conexas e retornar ao texto original em uma mesma seqüência de leitura.

Esta nova tecnologia permite uma gradual substituição do livro impresso. Talvez não com a velocidade que se espera, pois muitas situações deverão ser observadas para que finalmente o livro impresso, da forma como o conhecemos, venha a ser substituído pelo livro eletrônico, principalmente por haver uma tendência natural a ocupar um espaço sem fronteiras, o ciberespaço.

É natural que esta nova tecnologia deverá superar a cultura atual de utilização do livro impresso e, como conseqüência, criar uma outra cultura – a cultura do livro eletrônico, não somente por uma questão tecnológica, mas também em razão de ser uma forma similar a do funcionamento de nosso cérebro.

Parece-me, então, que a questão tecnológica precede a questão cultural, isto é, as novas tecnologias na produção de livros promoverão uma nova visão cultural quanto ao seu uso, isto é, a evolução do livro se deve as novas tecnologias e, como conseqüência, uma nova cultura de uso, principalmente quando passa a ser de disponibilidade a um número maior de pessoas. No momento, por uma série de razões, o livro impresso ainda pode ter mais acesso do que o livro eletrônico, mas esta situação deverá se modificar com os avanços tecnológicos esperados.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELLEI, Sergio. O Livro, a Literatura e o Computador..(2002, p.71, pp.102-103)

PERRENOUD, Construir as Competências desde a Escola, 1999, p.71)

LÉVY, Pierre. "As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática". Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. (Coleção Trans) p. 28-29

LÉVY, Pierre. Op. Cit. p. 33
LÉVY , Pierre. Op. Cit. p. 73
MACHADO, Arlindo. "Máquina e Imaginário: O Desafio das Poéticas Tecnológicas". São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p.189
LEMOS, André. "Anjos interativos e retribalização do mundo: sobre interatividade e interfaces digitais"
http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos
COLOMBO, Fausto. "La Comunicación Sintética" In: BETTETINI, Gianfranco.
COLOMBO, Fausto. "Las Nuevas tecnologías de la comunicación". Tradução de Juan Carlos Gentile Vitale. Barcelona: Ediciones Paidós, 1995. p. 240
VIOLA, Bil. "Y aura-t-il comproprieté dans l'espace des donnés. Communications, n. 48, 1988. p. 71 Apud MACHADO, Arlindo. "Ensaios sobre a Contemporaneidade"
Enciclopédia Delta Universal, v.9, pp.4864, 4865, 1980)

Enciclopédia. Barsa/Britânica, v.9, pp.86-87, 2000

Revista Editor trechos do artigo "O Livro Digital" por José de Mello Jr. - ANO 2 - Nº 8 - Fevereiro / Março 2000

[1] No ano 213 aC o imperador Shi Huangdi mandou queimar todos os livros por achar que incitavam à subversão. No período seguinte tentou-se reparar a perda, mas a madeira disponível não era suficiente e usou-se seda como suporte. (Enc. Barsa/Britânica, v.9, pp.86-87, 2000)
[2] Os códices (codex ou liber quadratus) foram utilizados na antiguidade para substituírem os rolos de papiros, com várias vantagens operacionais: não havia mais necessidade de desenrolar todo o material para achar determinado ponto; os dois lados do material podem ser utilizados.
[3]. (Enc. Delta, v.9, p.4865. 1980)
[4] Essa impressão com madeira (xilografia) foi conhecida na Europa pelas informações de Marco Pólo. Em razão disto, alguns pesquisadores entendem que J. Gutenberg havia tomado conhecimento desta técnica e a aprimorado.
[5] A bíblia de Gutenberg, também chamada Bíblia de 42 linhas ou Bíblia Mazarin, o primeiro livro impresso com tipos móveis e do qual existem cerca de quarenta exemplares.
[6] Lautor (wreader), expressão utilizada por Bellei em “O Livro, a Literatura e o Computador”. “...É em função dessa colaboração entre autor e leitor, na reconstituição do sentido, que teóricos do hipertexto propõem, por vezes, que o leitor do hipertexto seja redefinido como um lautor, já que ele mesmo, em certa medida, produz e consome o sentido do texto”.(2002, p.71)
[7] Dr. Vannevar Bush [ 1890-1974 ], então Diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Científico dos EUA, escreveu um artigo para o periódico Atlantic Monthly, intitulado “As We May Think”. Nele, além de descrever experiências junto a sua equipe de cientistas empenhada com o desenvolvimento de novas tecnologias, Bush idealizou o que seria o primeiro protótipo de uma máquina de leitura, muito próximo ao Livro Eletrônico de hoje, no qual ele apelidou de Memex.
[8] LÉVY, Pierre. "As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática". Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. (Coleção Trans) p. 28-29
[9] MACHADO, Arlindo. "Máquina e Imaginário: O Desafio das Poéticas Tecnológicas". São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p.189
[10] LEMOS, André. "Anjos interativos e retribalização do mundo: sobre interatividade e interfaces digitais" http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos
[11] COLOMBO, Fausto. "La Comunicación Sintética" In: BETTETINI, Gianfranco. COLOMBO, Fausto. "Las Nuevas tecnologías de la comunicación". Tradução de Juan Carlos Gentile Vitale. Barcelona: Ediciones Paidós, 1995. p. 240
[12] LÉVY, Pierre. Op. Cit. p. 33
[13] Idem. Ibidem. , p. 33
[14] VIOLA, Bil. "Y aura-t-il comproprieté dans l'espace des donnés. Communications, n. 48, 1988. p. 71 Apud MACHADO, Arlindo. "Ensaios sobre a Contemporaneidade" (CD-ROM).
[15] LÉVY , Pierre. Op. Cit. p. 73
[16] (Lévy, 1999, pág. 47,48
[17] (Castells, 1999, pág. 395)
[18] Fonte: Revista Editor
trechos do artigo "O Livro Digital"
por José de Mello Jr.
ANO 2 - Nº 8 - Fevereiro / Março 2000


[19]
[20] Cientista americano em entrevista a Revista Veja – edição 1982 – ano 39 – no. 45/15 de novembro de 2006