Neiff Satte Alam
Um amigo demonstrou extrema apreensão quanto a capacidade de resistência dos professores em razão da insensibilidade dos governos quanto as questões do magistério. Torno pública a resposta que dei a este meu amigo.
Meu amigo, da incompreensão à revolta basta um passo. Tua dificuldade em entender como alguém ainda teima ser professor é a diferença entre ser professor e não ser professor. O professor é aquele que entende que o centro de todo o desenvolvimento social, político e econômico está na construção do conhecimento e não na hipervalorização do mercado, do capital, do dinheiro. Professor é aquele que, apesar de todas as adversidades citadas ( todas corretas) em tuas manifestações durante nosso diálogo, busca os caminhos do saber, busca conectar conhecimentos com a realidade, busca romper a linha entre a ditadura do mercado e a democracia do conhecimento,fazendo com que a segunda supere a primeira.
Quando citas os exemplos familiares ( a família de meu amigo é formada por um grande número de professores) para justificar tuas apreensões estás demonstrando que somente alguém formado em um meio de tal qualidade poderia ter esta reação de desencanto e de inconformidade. Somente reconhecendo o valor desta profissão/missão que poderias demonstrar tal indignação.
Para tua tranqüilidade, este exército anônimo de professores não está passivo e podes ter certeza que, se alguma coisa de bom pode se esperar nesta sociedade com crescente número de excluídos virá pela mente criativa, pela experiência renovadora e pela persistência dos professores, pois de nosso trabalho é que surgirão as mentes que irão transformar a sociedade.
Nenhum cartão magnético, nenhuma máquina eletrônica, nenhuma invenção tecnológica irá superar e/ou substituir a figura do Professor, pois este é o que pode imantar as relações humanas, ensinar afeto, ética, fazer rir e fazer chorar; promover as liberações de adrenalina e serotonina nas quantidades certas e nos momentos oportunos; conectar o mundo real ao mundo virtual; unir diferentes épocas quando viaja pela história e unindo as diferentes histórias em uma mesma época.
A crise deste momento, enfrentada pelos professores, o que analisas com muita propriedade em tuas indagações/argumentações, é na verdade o conflito estabelecido nos últimos tempos entre os que querem dominar, pelo conhecimento que possuem, todos os demais, pelo conhecimento que não possuem. Este distanciamento é o que busca o neoliberalismo- um outro nome para o mercantilismo colonialista -, que tem necessidade absoluta de dominar sobre a ignorância, sobre o não-saber ou sobre o saber conveniente da grande maioria da população que se transformou em consumidores, simplesmente.
Professor é aquele que não se submete, não sendo neutro haverá de permanecer ativo e altivo, atento, inconformado, mas responsável por seu trabalho que, diferentemente de todos os outros, tem a difícil tarefa de construção do conhecimento desde os primeiros passos da criança até o último dia de sua existência, pois somente paramos de aprender quando morremos e até este momento alguém estará nos ensinando.
Meu amigo, o professor é material, mental e espiritualmente educador, nascemos assim e somente com esta tríade a reforçar nossa tarefa poderemos enfrentar toda esta adversidade e poder dizer, depois de 40 anos de magistério, que se tivesse que recomeçar escolheria ser Professor...