Neiff Satte Alam
“Enquanto os mortos não são enterrados, a vida fica paralisada, à espera. Uma vez enterrados, perdidas as ilusões, voltamos dos cemitérios para a vida. É preciso que os mortos sejam enterrados para que os vivos tenham permissão de viver”.Rubem Alves, Conversas sobre Política.
A incompreensão ou simples desconhecimento de que a liderança não pertence ao líder, pois que este é tão somente o depositário de uma delegação temporária de liderar determinado grupo, pelo tempo que este entender necessário e não pelo tempo que o líder quiser, pode levar instituições, de qualquer natureza e a qualquer momento, ao fracasso.
Tem sido comum este tipo de equívoco em agremiações partidárias, pois muitas vezes são tomadas de assalto por indivíduos que delas retiram em proveito próprio controle de grupos, poder de barganhar com outros segmentos, benefícios para empregos ou negócios e até vantagens pecuniárias diretas ou indiretas. Não são meras especulações, mas constatações através dos episódios como o do ‘mensalão’, ‘golpe no Detran’ e tantos outros escândalos escancarados pelas páginas de jornais e revistas, pela televisão e pelo rádio.
Vários partidos políticos têm fracassado e se apequenado pela incapacidade de seus líderes temporários entenderem que devem suas pretensões de continuísmo serem enterradas para que nasçam, frutifiquem e renovem o ar respirado dentro de suas agremiações e que não sejam abafadas e fadadas ao esquecimento, ao abandono, as novas lideranças que venham para oxigenar o ar viciado destes ambientes – é preciso que os mortos sejam enterrados para que os vivos tenham permissão de viver!
Nos últimos tempos, temos observado um verdadeiro ‘balcão de negócios’ em que se tornaram os acordos político-partidários nas composições de apoios para candidatos, principalmente no segundo turno das eleições. Caciques dos partidos, não mais líderes, mas apenas mini-ditadores, têm feito acordos sem o apoio dos filiados destes partidos - os verdadeiros donos da liderança, mas que são excluídos desta parte do processo democrático e republicano de eleições, transformado em verdadeiros conchavos de gabinete. Mais grave ainda, os verdadeiros detentores do poder partidário, seus filiados, são até ameaçados pelas antiéticas comissões de ética, que passam a considerar política como profissão e não mais como uma vocação a serviço da comunidade. Um grande retrocesso político, democrático e ético e, como resultado, os homens de bem começam a se afastar da política e, os poucos que restam, vão sendo lentamente arrastados pela má política, pela inconseqüência dos políticos profissionais e pela lentidão com que o povo vai descobrindo estas artimanhas que afastam os políticos vocacionados das contendas eleitorais.
Talvez o Rubem Alves tenha mesmo razão quando inicia o seu livro ‘Conversando sobre Política’ com a seguinte frase: “A política, dentre todas as vocações, é a mais nobre. A política, dentre todas as profissões, é a mais vil.”