SER PROFESSOR... QUE DESAFIO!
Regina Al - Alam Elias
Atropelado pelo tempo, passam-se os anos e um professor vai seguindo o seu caminho, cumprindo sua missão sem parar para refletir.
Um dia decide ser aluno novamente...Decide estudar...Estudar o que? Estudar o professor...
Cada aula desacomodando um pouco, cada leitura refletindo um pouco desestabilizando as certezas, encontrando outras verdades...
Quando se vê diante de leituras que mostram as visões de diversos autores, inicia uma “refilmagem” da vida, com uma análise crítica, com um desconforto imenso de se enxergar em algumas linhas de alguns textos e se deparar pensando: “mas este sou eu...”, ou então: “mas eu também faço assim...”, ou quem sabe: “bem que eu poderia ter sabido disto antes e não seria tão sofrido...”.
É um encontro com ele mesmo.
Vários conceitos ficaram mais claros, outros conceitos foram sendo descobertos. Alguns, citados a seguir, marcaram bastante:
- Qualificação como sinônimo de preparação de “capital humano” (Silvia Maria Manfredi, 1998).
- Paiva (1995) surge com uma designação nova para o termo qualificação: “qualificação formal”.
-Enguita (1991) entendeu que, como conseqüência desta “credencial” escolar que passou a ser a “qualificação formal”, as pessoas precisavam de mais educação do que realmente o emprego necessitava.
- No modelo Taylorista, os trabalhadores são preparados exclusivamente para desempenhar tarefas/funções específicas e operacionais, sem fundamentação teórica e sem condicionamento sócio/cultural. A competência fica direta e exclusivamente ligada ao oficio/função do trabalhador em seu trabalho formal.
Substitui-se a noção de qualificação pelo chamado modelo da competência.
Aparecem alguns significados atribuídos à competência no campo da avaliação educacional.
Até 1960 predominam as áreas de didática e metodologia do ensino.
A partir de 1970, inicia uma abordagem mais científica e mais abrangente, envolvendo avaliação de currículos, programas e projetos educacionais. É neste período que surgem as avaliações da competência profissional. Ligava-se a percepção inteligente dos fins à adequação funcional dos meios a estes fins, que era sempre a capacidade de atingir os objetivos propostos que, de uma forma ou de outra, dependiam de certas condições e que tornava a competência profissional contingente ( Goldberg,1974).
Mello (1982) entende que competência técnica é o saber fazer bem, passando pelo domínio do conteúdo e dos métodos adequados para transmitir estes conteúdos a alunos com dificuldades de aprendizagem.
Resumindo, competência seria:
Ø desempenho individual racional e eficiente visando a adequação entre fins e meios, objetivos e resultados;
Ø perfil comportamental de pessoas com destrezas psicomotoras e habilidades operacionais;
Ø atuações profissionais visando a funcionalidade e a rentabilidade de um organismo.
Profissionalidade: O que significa este termo nunca antes ouvido pelo incrédulo professor?
Leituras levaram–no a entender este termo e seu significado.
Em primeiro lugar, falar em profissional é falar de competência, de seriedade, de eficiência, de trabalho com qualidade. Não interessa a realidade em que vive a pessoa nem o trabalho que executa. Não há como fazer qualquer tipo de diferenciação. Neste universo estão os Profissionais da Educação: os professores.
Profissionalidade é uma expressão que permite especificar a atuação do professor na sua prática.
Profissionalidade, é ainda, um conjunto de ações, destrezas, conhecimentos, atitudes e valores ligados à ação de ser professor. São as características próprias da ocupação docente. Esta é uma visão baseada nos conceitos de Gimeno (1993).
Marcos(1996), em sua tese de doutorado, entende que professoralidade é a “diferença produzida pelo sujeito”. Diz ainda que é “um estado de desequilíbrio permanente”; “o professor deve ser um impulso e uma rede”.
Professoralidade é como se fosse um estilo de vida, é um estado de espírito pessoal e individual. É ser professor por dentro, inteiro, não como quebra galho, como alternativa de ganhar mais (ou menos?...).
Ficam claros, após as leituras, os motivos que levam um pesquisador a trabalhar com as histórias de vida das pessoas.
Cada professor tem a sua “marca”, a sua identidade que o encaminha para sair da condição de simples “dador de aulas”, simples repassador de fórmulas, para uma condição de constante inquietude diante de cada desafio que é o instante de dar uma aula.
Professor de Matemática!
Pensava (e vivia) as situações que envolvem o dia a dia de um professor desta disciplina.
Pensava também na postura dos professores que encontrou ao longo da vida acadêmica (lembrava daquele que não permitia muitas perguntas e, como dono absoluto da verdade matemática, não descia de seu pedestal, intimidando qualquer tentativa de interferência em suas demonstrações).
Para permitir que o aluno participe, é preciso vencer o medo de, ao tratar das dificuldades do aluno, perder o "controle da situação" pois é difícil ter sempre a resposta. Corre-se o risco de não ser mais o dono da verdade, aprendendo junto com o aluno.
Abre-se a possibilidade de "sair do programa" e isto exige do professor uma constante procura de soluções para problemas sempre novos, possibilitando assim um crescimento contínuo.
Ser professor de alunos que contestam e de alunos cheios de dificuldades nem todos conseguem. Precisa garra, técnica, gosto pelo que faz, dedicação ao aluno, estudo de novas alternativas de trabalho e de avaliação, a cada nova turma que lhe é confiada.
Precisa metodologia apropriada a cada tipo de turma e de conteúdo.
Por fim, ser professor é ensinar a todos os que querem aprender.
O livro de José Carlos Libâneo(1998) trata de conhecer a escola de hoje como espaço de integração e síntese.
O autor afirma que a escola precisa formar cidadãos com suportes de convicções democráticas recolocando valores como justiça, solidariedade, honestidade, reconhecimento da diversidade e da diferença, respeito à vida e aos direitos humanos básicos, o que é esperado de alunos e professores. Ele propõe os seguintes objetivos para uma educação básica de qualidade:
Ø preparação para o mundo do trabalho, adaptando o trabalhador às complexas condições de exercício profissional no mercado de trabalho.
Ø formação para a cidadania crítica, colocando o aluno no sistema produtivo como um cidadão crítico e competente.
Ø preparação para a participação social, em termos de fortalecimento de movimentos sociais.
Ø formação ética, explicitando valores e atitudes por meio das atividades escolares.
A educação não se dá apenas na escola e sim em todos os locais por onde o cidadão passa. A escola precisa deixar de ser um lugar onde apenas se transmitem informações para ser um lugar onde o aluno faça análises críticas e produza informações, procurando estas informações e dando a elas um significado pessoal. A escola deverá fazer uma síntese entre a cultura formal e a cultura experimentada.
É nesta escola que haverá mais espaço ainda para o professor, com sua capacidade cognitiva e afetiva, para dar sustentação às descobertas dos alunos e atribuir significados às mensagens e informações recebidas das mídias e das multimídias. Ele precisa adaptar a sua didática às novas experiências educacionais.
São destacados alguns pontos que situam o posicionamento do professor sobre as novas atitudes docentes:
Ø assumir o ensino como mediação: aprendizagem ativa do aluno com ajuda pedagógica do professor;
Ø o professor deve dar o conteúdo próprio de suas disciplinas, mas considerando os conhecimento , a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, suas capacidades e interesses, seu procedimento de pensar e seu modo de agir. É preciso que o aluno traga para a sala de aula suas experiências, sua realidade de vida, para que o professor possa ensinar a argumentar e expressar seus sentimentos e desejos
Conclusão do professor ao terminar a disciplina:
COMO É BOM SER PROFESSOR!
AGOSTO de 1999
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