Powered By Blogger

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ROUBANDO O FUTURO


 

NEIFF SATTE ALAM

“Como a característica mais marcante da “casa-Terra” é a sua capacidade intrínseca de sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável tem de ser feita de tal maneira que seus modos de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologia não prejudiquem a capacidade intrínseca da natureza de sustentar a vida”. CAPRA

            Quando todo o equilíbrio dinâmico de um sistema está ameaçado; quando a comunicação em rede dos seres vivos sofre rupturas de tal forma que as conexões relaxam; quando a diversidade, fator importante para uma maior resistência e capacidade de recuperação, homogeneíza-se pela ação descontrolada sobre o meio, e tudo isto em razão de uma preocupação única de resolver questões de economia e de negócios, a  sustentabilidade necessária passa a não existir. Estamos, aqui, utilizando o conceito original de sustentabilidade proposto por Lester Brown, início da década de 1980: “Uma sociedade sustentável é aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras”. Simples, assim.

            Os grandes negócios, responsáveis por “surtos econômicos” positivos em determinadas regiões, em geral comprometem o equilíbrio dinâmico do ambiente quando se despreocupam com as questões de sustentabilidade ou “miniminizam” os traumas ecológicos que possam comprometer a biodiversidade, o equilíbrio das e entre as redes e o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas envolvidos nestes rendosos negócios.

            Um exemplo claro deste desinteresse real para com as questões de equilíbrio ambiental é o terrível dano causado ao sistema ecológico de várias bacias hidrográficas da parte norte do Estado (RS) evidenciado por uma mortandade recorde de peixes, principalmente no Rio dos Sinos. Se houve a morte de milhões de peixes, imagine-se a destruição do plâncton e bento que não pôde ser fotografada, mas que ocorreu em números mais expressivos do que o de peixes. Como conseqüência, em curto prazo, o desabastecimento de água potável para a população da área atingida e a redução da pesca que é o meio de vida de milhares de pescadores que terão de ser socorridos pelo governo, o que determinará deslocamento de recursos públicos de outras áreas.

            Em outra região do Estado, Região Noroeste, toneladas de pesticidas são lançados em rios determinando, também, destruição da fauna e flora aquáticas, de novo o abastecimento de água potável se complica e os recursos para dar condições de uso humano para a água captada são aumentados. Mais dinheiro público, nosso dinheiro.

            Isto que nem chegamos a considerar a questão da monocultura de eucalipto na região sul do nosso Estado, pois os danos que já aparecem em doses astronômicas no norte somente serão sentidos daqui a alguns anos em nossa região.

            A sustentabilidade somente será obtida quando formos eco-alfabetizados e quando qualquer projeto ecológico levar em consideração que o capital natural é finito e que o capital criado jamais poderá interferir ou extrair  qualquer elemento natural sem a devida compensação que permita retorno às condições de equilíbrio originais, pois vida e equilíbrio dinâmico são indissociáveis e a quebra desta regra simples resultará em graves conseqüências para as gerações futuras, que são nossa responsabilidade.

            Em respeito as gerações futuras, devemos ser duros com os que querem, em nome de falsas promessas de desenvolvimento regional e de empregos abundantes, destruir nosso capital natural e nos roubar o futuro, legando desertos aos nossos filhos e netos...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

PRIMEIRA AULA


Neiff Satte Alam

 

As minhas relações com os alunos e com o tempo, o tempo de vida, o tempo de trabalho, fazem-me retornar aos bancos escolares e, o mais importante, retornar no tempo. Minha infância passa pelos meus  olhos, pela minha mente. Sinto-me atemporal, pois o encontro entre o passado e o presente é apenas um jogo mental, mas é o que aprendemos nas nossas primeiras experiências como estudantes e que marca nossos caminhos.

              Sempre fico apreensivo em minhas primeiras aulas no início do ano letivo. Sinto-me de novo uma criança. São essas impressões que procuro registrar neste depoimento que é o retrato de um lapso de tempo, mas que dá  ritmo ao trabalho do ano.

Entrei. Caminhei firme, sem nervosismo, seguro, curioso...muito curioso. Trinta e poucos adolescentes, trinta e poucos pares de olhos, concentraram-se em mim. Trinta e seis anos de sala de aula, cinqüenta e cinco anos de vida e, pela milésima vez, senti aquela centelha de energia que plasmou aquele instante como se fosse o primeiro contato com alunos. Renasci.

            Em poucos segundos captei as mais estranhas e controvertidas mensagens não faladas, sensações de neurônio para neurônio (dos deles para os meus, dos meus para os deles), travamos uns diálogos mudos, infinitos na finitude daqueles segundos. Amamos-nos e nos odiamos, somos simpáticos e antipáticos, severos e permissivos. Nossos inconscientes traçaram as linhas de construção de nossa relação. Iniciou o ano letivo.

            Incrível, mas ainda não sei o que realmente passo de positivo aos meus alunos. Em certos momentos fico com a sensação de que “falo como mudo e eles me escutam como surdos”. Em outros momentos a nossa comunicação é quase perfeita, como se houvesse uma magia.

            Quando mentalizo a distância de idade que nos separa, quanto traço um paralelo entre as características sociais, políticas, econômicas que movimentavam o meu mundo quando tinha a idade daqueles jovens e uma cabeça como a deles, inconseqüente, corajosa (quase incendiária), irreverente, mas com limites bem definidos quanto aos papéis que todos desempenhávamos, sinto que podemos nos entender perfeitamente, mas que é a partir de mim que isto deve ocorrer, pois, entre nós, apenas eu posso viver em dois tempos diferentes simultaneamente: posso ser jovem enquanto lembrança e memória, voltar a me sentar nos bancos escolares, ver o professor entrar, seguro ou não, curioso ou não, talvez não soubesse determinar isto para a maioria deles ( sempre há exceções)  e posso ser adulto, maduro, com uma vivência larga que se traduz em experiência. Posso unir o ontem ao hoje. Posso contar histórias da história contada.

            Esta é a primeira aula. Dou-me conta, as vezes, de que segurei o tempo. Centenas de horas passaram-se em uma fração de segundo. Lembro da professora de Francês que me obrigava a cantar o hino da França, do Professor de Física que atormentava meus dias com intermináveis teoremas (decorei quase todos, não sei de nenhum), do Professor de Matemática (um deles lia belos poemas o outro....era eventual), as aulas de Biologia em que a professora ficava corada toda a vez que falava em sexo e isto fazia-nos suspirar...! Tinha a professora que me alfabetizou, eu tinha seis anos e me apaixonei por suas pernas, que pernas! E ela me ignorou, não quis nem namorar comigo...

 Acordo, olho meus alunos, pensam que meus pensamentos são para eles, mas não, estava me reabastecendo na minha juventude para poder entendê-los.

            Confesso, e peço segredo, que quando finalmente vou dirigir-lhes a palavra, não sei o que dizer. Devo me apresentar (bobagem já sou  mais dos que conhecido)? Quem sabe fazer uma frase de efeito? Dizer uma piada? Pedir que eles se apresentassem é uma boa. Ganha-se tempo para criar um momento inicial triunfal, inesquecível, mas aí toca a campainha, termina a aula e eu digo: - “até amanhã”!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

AMBIENTALISTAS, COM MUITA PRUDÊNCIA, PRESERVAM O FUTURO.


 

Neiff Satte Alam[*]

 

 

Quando caía a noite, um passarinho que tinha sido posto numa gaiola começava a cantar. Um morcego ouviu sua voz. Foi perguntar-lhe por que de dia ele descansava e à noite cantava. O passarinho respondeu:

- Tenho minhas razões. Foi cantando de dia que terminei preso; desde então, aprendi a ser sensato.

O morcego lhe disse:

- A prudência agora não adianta de nada: por que não a usaste antes de te prenderem! (Fábula de Esopo, séc. VI a.C.)

 

 

     Desenvolvimento sustentável, verdadeira meta dos ambientalistas que lutam no presente por um futuro onde a natureza se harmonize com todos os seus componentes, vivos e não vivos. O homem, parte importante nesta equação, tem uma maior responsabilidade, pois pode interferir de modo mais agressivo sobre a natureza em comparação a qualquer outro ser vivo.

     Lamentavelmente existem os detratores dos ambientalistas que, dando um sentido pejorativo à expressão, buscam argumentos incoerentes, agressivos e com elevado grau de inconsequência, pois, desconhecendo a relação entre capital natural e capital criado, pensam que capital criado assegurará um mercado futuro rentável e esquecem que com a desestruturação do capital natural poderá não haver futuro, em uma visão muito pessimista, ou um futuro com baixíssima qualidade de vida para o homem e aos demais seres vivos que restarem, todos em busca de um novo clímax, que passarão por uma sucessão secundária com enormes obstáculos e forte pressão de seleção.

     Diferentemente do que dizem determinados pensadores “xiitas”, que nós os ambientalistas denominamos carinhosamente de “ecopatas”, somos totalmente favoráveis ao desenvolvimento de nossa e de qualquer outra região do planeta, desde que não comprometa a qualidade de vida das gerações futuras. Esta tarefa é, no entanto, de extrema dificuldade, pois as vantagens imediatistas, tendenciosas e carregadas de interesses pessoais nos remetem a uma verdadeira visão apocalíptica do planeta Terra.

     De qualquer forma, mesmo diante de tantas dificuldades, a pressão sobre grupos de extermínio ambiental tem tido algum sucesso, claro que a isso se somam fatores externos, como as crises econômicas sucessivas, que têm demonstrado, inclusive, que muitos projetos de desenvolvimento que aportaram por aqui pensavam exclusivamente na saúde financeira própria e não na da região, dai terem se deslocado para regiões mais desprotegidas, onde os ambientalistas não tinham a força dos daqui. Lamentavelmente não estamos livres de novas investidas de grandes conglomerados, muitos com nova roupagem, pois nossas condições para produção de suas especialidades são muito boas e, some-se a isto, a inexistência de políticas públicas para uma reforma agrária que atenda aos reais interesses de todos os que produzem no campo e aos que se utilizam desta produção dando-lhe um valor agregado que dispense o abuso de monoculturas desestabilizadoras ecológica e economicamente.

     Como diziam os antigos: “os aguapés estão se movimentando, tem jacaré na vizinhança.” Fiquemos, então, alertas...



[*] Professor