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sábado, 1 de outubro de 2011

Ricardo Gurvitz viajante e gourmet

Esta é uma homenagem ao meu amigo RICARDO GURVITZ,  que continua sua viagem pelas estrelas...


O MUNDO É UM MERCADO
Você comeu seu arroz hoje? Assim dizem os chineses ao nosso conhecido BOM DIA.


O BATALHÃO PRECURSOR (PARTE II) –Skopye, Macedônia


Falei de John, domingo passado, um tipo de abre-alas das equipes de filmagens em assuntos turísticos. Depois de tudo marcado por apenas um homem, os roteiristas teriam a sua oportunidade de entrar em cena. São eles que ditarão as seqüências que o/a artista central vai mostrar na tela. John disse que eles só saberiam como agir e apresentar no dia que chegassem. Muitas tomadas de cenas são preparadas para inserção futura no filme como se o artista estivesse por lá. Coisa que só acontecerá na nossa imaginação. Respostas são dadas para perguntas que ele somente fará muito tempo mais tarde. Comidas serão preparadas e ele só provará em uma outra data. Algumas entrevistas mais importantes esperarão para serem feitas por ele. Para uma única película, serão feitas não centenas de horas de filmagens, mas milhares. Muitas vezes, uma câmera ficará por horas e mais horas ligada, somente para recolher a imagem de uma borboleta ou de alguma onça. O pior que pode acontecer, muitas vezes, é quando vão recolher o material, e a grande surpresa é que foi tudo roubado. Nesse momento, o grupo que conversava com ele, levanta uma questão: se não consideraríamos impossível para pobres viventes, como nós, com uma pequena câmera, fazer um bom filme de viagem. Ele riu e respondeu que chegavam a filmar mais de três mil horas no conjunto de todas as máquinas, para sobrar no fim, um pedaço de filme que durasse apenas uns trinta minutos. Acho que todos éramos muito pretensiosos. Aqueles que possuíam câmera de filmagens as esconderam, pois, lá no fundo, todos esperariam um dia ganhar um Oscar pelo seu trabalho. Os profissionais, dependendo do lugar, chegavam a alugar helicópteros, gruas, carros, barcos e caminhões. Isso seria impossível para qualquer um de nós. John sorria e nos incentivava a continuar filmando e fotografando. Considerava ser nossa função inocular a virose de viagens em outras pessoas, além das nossas próprias famílias. Ele começou a sua vida profissional com esse tipo de filmes, os mesmos que nós sempre acabamos por encher o saco de nossos visitantes. Eu já abandonei as filmagens há muito tempo e sempre pergunto a todos aqueles que filmam as suas viagens: quantas vezes elas foram vistas depois? As respostas variam entre duas e três vezes. Raramente ultrapassam esses números. Ainda acrescentou que isso valia para fotografias. Informou que, de um único ponto, tiravam mais de quinhentas fotografias em diversos ângulos, dependendo da luminosidade e, principalmente, com a utilização de filtros, os quais os amadores nem desconfiam existir e, ainda por cima, a maquiagem que as fotografias sofrem. Pobres neófitos. Ninguém mostrou coragem de puxar as máquinas e mostrar alguma coisa, pois saberiam que este ato acarretaria ser julgados pela pesagem do coração (livro dos mortos dos egípcios) para saber da condição de sua obra. Naquele momento, eu já havia feito perto de duzentas fotografias em cinco ou seis cidades. Será que eu teria coragem de mostrá-las? Claro que não! Entretanto, queríamos mais: mais informações, mais ensinamentos, mais vivência. Uma pergunta foi feita por um francês: - o que faziam quando chegavam a um lugar e não parasse de chover? Grande pergunta! Uma das saídas era começarem as tomadas internas, tentar que a história pudesse ser contada mesmo com chuva. O que era muito difícil. Gravarem as entrevistas com uma pessoa no lugar do artista principal, para que depois, por trucagem, repetirem as perguntas que seriam colocadas no filme. Indagamos também sobre os possíveis perigos. Essa era uma parte importante da atuação de John. Precisava localizar as zonas de perigo e saber como poderiam ser contornadas. Veio a minha lembrança que, quando o cantor Mickel Jackson cantou na rocinha, alguém negociou com traficantes a segurança do astro; não foi a polícia que deu a devida proteção. Isso para ele era coisa comum. Vivia convicto de que para cada problema, haveria uma solução. Já havia passado por situações difíceis, complicadas e até ridículas. Já fora confundido com traficante, mafioso, comprador de animais selvagens até como um proxeneta. Então, agora se considerava um homem de mil vidas. Aqueles que ali estavam e o cercavam éramos todos viajantes e o entendíamos muito bem, pois já havíamos passado, em algum momento, por circunstâncias embaraçosas e enleadas. Acabávamos usando como saída a utilização de criatividade ou de um pouco mais de coragem do que a utilizada em uma viagem dirigida por um guia que, normalmente, não arrisca e nem pode arriscar, sob pena de ser demitido ou processado. Nós que viajamos por conta própria e risco, não tínhamos tanto cuidado; inclusive já tivemos o nosso tradicional episódio de comer algo que acabou em uma bela diarréia. E o pior, não poderíamos culpar alguém. Quantos de nós já havíamos nos metido em enrascadas, mas estávamos todos ali, ávidos de novas viagens e conhecimentos. Não havia, no nosso dicionário a palavra desistir. Cada um com seus interesses próprios. Falei a John dos contrastes de um Brasil, interiorano onde ainda se podia viajar com alguma tranqüilidade e do Brasil em que os riscos estão presentes, quase como na guerra no Iraque. Não foi nenhuma surpresa para ele. Sabia de tudo com detalhes, mesmo sem ter visitado o nosso país. O que mais chamou a sua atenção: o apagão aéreo. Já havia vivido grandes atrasos em sua vida, mas na maioria foram devidos a condições atmosféricas como: furacões, nevascas, aguaceiros, ventos muitos fortes e, uma vez, conviveu com um princípio de revolução. Mas sem explicação lógica, que convencesse, nunca conseguiu entender, assim como eu pensava. Para mim, tudo não passou de uma grande cafajestada e briga de pavões. Preferi, ao invés tentar explicar-lhe, fazer uma pergunta: já que viajava tanto, como curtia as férias? A resposta era um contra-senso para nós: - fico dentro de casa, com minha mulher e filhos sem querer saber de gente. O local mais longe que desejava ir era o supermercado. Eu estava, naquele momento, a mais de dez mil quilômetros de minha casa.





Essa é a minha opinião, depois de ter visitado cinqüenta países.