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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dia de cão

Neiff Satte Alam



De manhã, como todas as manhãs, o Aparício aguardava o ônibus que o levaria ao centro da cidade e dali seguiria a pé por umas seis quadras até o local de trabalho, um escritório pequeno com mais de dez pessoas trabalhando onde caberia, saudavelmente, não mais do que três. Caminhando na grama que predominava junto ao local de parada do ônibus, inadvertidamente pisou em um malcheiroso e fresquinho produto fecal de algum cão que por ali passara. O sapato, de sola grossa e com várias ranhuras, ficou impregnado daquele material, que se grudou firmemente à sola e, por mais que passasse os pés na grama e na areia do local, mantinha-se preso. Neste meio tempo chega o ônibus (o próximo somente passaria 30 minutos depois), entre terminar a limpeza e “pegar”o ônibus, optou por seguir viagem.

Ao por o pé no estribo – aquele pé – já ficou a marca do solado do sapato e, naturalmente, o característico mau cheiro típico de dejeto de cachorro. O ônibus estava superlotado. Os primeiros passageiros a sentirem o cheiro imediatamente olharam, por instinto, a sola de seus sapatos, mas logo perceberam as pegadas denunciadoras que se prolongavam até a roleta junto ao cobrador. Várias janelas foram imediatamente abertas (eu disse que era inverno e a temperatura oscilava entre 1 e 2 graus Celsius? Não? Pois estava realmente muito frio). Ruídos e falas de desagrado foram ouvidos e olhares de pura antipatia lançados sobre o pobre Aparício que desesperadamente tentava se livrar do problema, mas só conseguindo piorar a situação ao esfregar o sapato, inadvertidamente, na bengala de uma senhora. Alguns jovens ensaiaram uma vaia, mas foram interrompidos por uma freada brusca do ônibus. Procurando rapidamente chegar à porta de saída, foi deixando sua marca em toda a extensão do corredor, um verdadeiro rastro de terror, de onde era um pouco vítima e um pouco culpado.

Naquele dia, Aparício não trabalhou, pois seus colegas de escritório, não suportando aquele cheiro desagradável, deram-lhe dispensa... Voltou para casa sem os sapatos, pois, em um momento de raiva incontida, atirou-os em uma lixeira provocando a fuga de vários ratos, baratas e moscas que, incrivelmente, não suportaram o cheiro.

Esta história me lembra as cenas que tenho visto nas CPIs de Brasília e do Rio Grande do Sul. Depois de pisarem nestes dejetos, fica o rastro e o malcheiroso ar denunciando as trapalhadas dos caminhantes que não olham onde pisam e aí ninguém, nem os “amigos”, querem limpar a sujeira e o pior, ninguém sabe quem ou de quem era o cachorro que começou toda a história. Deve estar arrumando encrenca em outras paradas ... de ônibus! Deste jeito, vão faltar ratos nas lixeiras.