BRENO COSTA da Agência Folha
Depois da apreensão de 19 caminhões carregados com madeira extraída ilegalmente de uma terra indígena, madeireiros destruíram na noite de domingo (23), segundo a polícia, o posto do Ibama em Paragominas (220 km de Belém) e tentaram invadir o hotel onde cinco funcionários do órgão federal estavam hospedados. A Polícia Militar diz que 3.000 pessoas (o município tem 90 mil habitantes) participaram da manifestação. Na ação, todos os caminhões apreendidos, vindos da reserva indígena Alto Rio Guamá, na divisa com o Maranhão, foram levados embora. Até o início da noite de segunda-feira (24), nenhum havia sido recuperado. Os veículos estavam carregados com 400 metros cúbicos de madeira, ao todo. A maioria, segundo o Ibama, era maçaranduba, encontrada somente na área da reserva indígena.
No protesto, quatro carros do Ibama e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente foram incendiados, assim como documentos do órgão federal. Móveis e computadores do Ibama, que funciona em um prédio municipal, foram destruídos. O analista ambiental do Ibama Marco Antônio Vidal, que coordena a Operação Rastro Negro, de combate à ilegalidades na cadeia produtiva de carvão no Pará desde o fim de outubro e que resultou na apreensão dos caminhões, disse que os manifestantes também tentaram invadir o hotel onde ele e mais quatro funcionários do Ibama estavam hospedados.
Segundo ele, um trator chegou a ser usado para derrubar o portão de entrada do hotel, mas policiais conseguiram impedir a invasão, com o uso de bombas gás lacrimogêneo. Apesar dos distúrbios, ninguém havia sido preso até o início da noite de ontem. Segundo a polícia, o protesto começou por volta das 19h e só foi controlado quatro horas depois. O delegado Vicente Ferreira Gomes disse que a polícia de Paragominas não tinha efetivo suficiente para efetuar prisões, dado o número de pessoas envolvidas no protesto. Segundo ele, a perseguição aos 19 caminhões roubados não foi possível porque os carros da polícia não conseguiam passar pela multidão que tomou conta das ruas da cidade.
Ontem, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) pediu ao colega Tarso Genro (Justiça) o envio de homens da Força Nacional de Segurança a Paragominas --uma das 36 listadas pelo Ministério do Meio Ambiente, em janeiro deste ano, como líder em desmatamento na região da Amazônia. O envio de reforço ainda não foi confirmado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, que coordena as ações da FNS, que já mantém um efetivo no Pará para reforçar a Operação Arco de Fogo. O presidente do Sindicato do Setor Florestal de Paragominas, Mário César Lombardi, que representa 40 madeireiras em funcionamento no município, disse que o ato foi isolado e não teve o apoio do sindicato.