NEIFF SATTE ALAM
Michel de Montaigne nasceu em 28 de fevereiro de 1533, século XVI, passaram-se 464 anos de seu nascimento. Morreu aos 59 anos e deixou uma obra rica e atual, pois muito do que escreveu, principalmente em “Ensaios”, sua obra mais polêmica, pode ser parte do atual contexto, independentemente do que se possa considerar certo ou errado.
Sua concepção de política de governo, tendendo ao liberalismo de hoje, é de que “...o indivíduo é deixado livre dentro do quadro das leis e se procura tornar tão leve quanto possível a autoridade do Estado. Para ele, o melhor governo seria o que menos se faz sentir e assegura a ordem pública sem por em perigo a vida privada e sem pretender orientar os espíritos”. Não se trata de uma minimização do Estado, mas uma eficiência do Estado que, em condições, pode proteger seu povo através de governantes que devem saber a hora de improvisar e a hora de preparar o que fazer. Aliás, sobre esta questão de improvisação e preparação, no caso das oratórias inoportunas, deixa uma mensagem aos governantes que não sabem improvisar, mas teimam em fazê-lo: “...Nunca foi dado a ninguém acumular os dons da natureza. Assim acontece que entre aqueles a quem foi dado o dom da eloquência, alguns há cuja palavra é pronta e fácil e têm a réplica tão viva que nunca falham, enquanto outros mais tardios só falam depois de longamente elaborado o tema de antemão escolhido.”
A improvisação, aqui colocada, não se refere a uma ação inconsequente, mas a uma resposta rápida às emergências e urgências, portanto uma qualidade, neste contexto, talvez uma virtude e, como todas as virtudes, tem sempre o viés da conseqüência, pois mesmo a virtude tem seus limites. Podemos utilizar como exemplo, a valentia. Em “Ensaios”, Montaigne analisa bem esta questão e nos dá, de novo, uma lição de como tratar questões difíceis e de como reagir de pronto a situações adversas: “... A valentia tem seus limites, como qualquer virtude; ultrapassá-los pode levar ao crime. Pois é ela suscetível de tornar-se temeridade, obstinação, loucura em lhe ignorar os marcos delimitadores, bem difíceis em verdade de se perceberem em dados pontos da separação. Daí, dessas considerações nasceu o costume de, na guerra, punir-se até com pena de morte quem teima em defender uma praça não mais defensável segundo as regras da arte militar. Sem o que, confiando na impunidade, não houvera choça que não sustasse a marcha de um exército”.
Assim, nos dias de hoje, deve se portar a oposição. Recuar da posição de inferioridade, mas manter-se viva para assumir o poder em outra oportunidade. Lamentavelmente o que se percebe é a manutenção do estado belicoso de campanhas eleitorais quando os derrotados não se entregam e podem terminar eliminados, pois improvisam mal e preparam-se pior ainda quando elaboram a “escrita”.
Retiradas estratégicas são necessárias para manter formas e métodos diversos de governo, para que as alternativas ideológicas se mantenham vivas e a diversidade de pensamento, tão importante para a democracia, permaneça como reserva para novas realidades e novas necessidades no futuro.
Michel de Montagne morreu no dia 13 de setembro de 1592, mas vale ainda a leitura de “Ensaios”, pois sua obra venceu o tempo.