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domingo, 3 de abril de 2011

AS PITANGUEIRAS DE VILA OLIMPO

NEIFF SATTE ALAM

Éramos um grupo considerado terrível para os padrões da época. Todos filhos ou netos de professores na faixa dos 8-9 anos de idade. Dois rios, Piratini e Santa Maria, faziam nossa alegria de verão. No local denominado “Orqueta”, às margens do Rio Santa Maria e a poucos metros de desaguar no Rio Piratini, fazíamos reuniões com grande parte da comunidade de Vila Olimpo (hoje Pedro Osório). Junto às margens do rio, com uma praia de areia grossa, havia um mato com araçazeiros e pitangueiras em meio a açoita-cavalo, aroeiras, maricas, umbus e outras árvores. Araçás e pitangas eram o nosso “café da tarde”, entre um mergulho e outro, entrávamos no mato e colhíamos as frutinhas saborosas, doces e muito saudáveis. Nossa saúde era de “ferro”.
O meio de transporte utilizado para o deslocamento até às margens do rio era a bicicleta, como as ruas não eram calçadas, o exercício físico em meio a areia das ruas completava nosso invejável preparo físico de forma natural e saudável.
A saúde daquela gurizada barulhenta, que saltava da ponte para o rio ou mesmo de suas barrancas que predominavam em uma das margens, era comparável a saúde daquele invejável e equilibrado ambiente que ainda preservava sua biodiversidade, pois dezenas de diferentes aves, insetos, mamíferos, anfíbios e répteis faziam-nos tomar cuidados especiais e nos colocavam como parte daquele ambiente perfeitamente organizado. No rio assistíamos peixes movimentando-se por entre as pernas dos banhistas. Os pescadores da noite contavam o sucesso das pescarias de jundiás, traíras e dourados, utilizando como iscas pequenos lambaris.
Hoje, passados mais de meio século destas aventuras de infância, percebemos como foi importante aquela convivência com um meio ambiente saudável e preservado, pois é indissociável o equilíbrio do meio em que vivemos com o nosso próprio equilíbrio orgânico, mental e espiritual. Aquelas crianças que se banhavam no rio são hoje os educadores, políticos, cientistas, jornalistas, médicos, agrônomos e veterinários atuantes na região, no Estado e no País e a lembrança daqueles tempos nos obriga a fazermos linha de frente para que aquele rio e todos os rios, aquela praia e todas as praias, aquela mata e todas as matas recuperem sua organização em clímax, superem as investidas desenvolvimentistas e permitam o retorno a um ambiente saudável para que voltemos a ser saudáveis. É urgente que tomemos consciência de nossa responsabilidade para com o futuro e que não nos entreguemos como bois ao matadouro, sem lutar, pois existem muitos outros caminhos para o desenvolvimento sem que tenhamos que comprometer o já tão desgastado meio ambiente, pois este é nossa verdadeira casa. Vamos ter coragem e voltar a ter saúde, dignidade e alta autoestima e exigir de nossos governantes mais criatividade para que não se entreguem a soluções fáceis e programadas para usufruir o que mais sagrado temos: nossa casa-Terra.