NEIFF SATTE ALAM
“...Somos céus atravessados por nuvens de energias vindas da profundidade dos tempos. Quanto mais acreditamos que somos alguém, mais somos ninguém. Quanto mais sabemos que somos ninguém, mais somos alguém.” Pierre Lévy
Tramamos a lenha no fundo da lareira, riscamos um fósforo em chumaços de papel meticulosamente colocados entre as achas e ficamos auxiliando a expansão do fogo, uma visão que nos mantém presos à magia das chamas.
Por alguns instantes, hipnotizados pelos movimentos ritmados das labaredas, recuamos no tempo, a um tempo anterior a história. Vivemos, em pensamento, o Paleolítico, idade da pedra lascada e época, onde tudo indica, o homem começou a domesticar o fogo. Não há nada escrito, apenas indícios, mas suficientes para gerarmos estas idéias, principalmente quando estamos frente à lareira sem poder tirar os olhos das chamas.
Quando o homem passou a produzir seus artefatos polindo pedras e dando-lhes utilidade e significado, naqueles tempos que denominamos período Neolítico, também começou a entender que seu corpo, seu cérebro e o conhecimento que começara a adquirir necessitavam de periféricos para realizarem suas tarefas manuais e operar ações mais importantes, como fazer guerras, controlar os inimigos ou opositores e até progredir e buscar condições mais favoráveis de sobrevivência, com qualidade e por um tempo maior.
Frente ao fogo, hipnotizados e em um verdadeiro e inexplicável momento de libertação do pensamento, ficamos imaginando o homem pré-histórico formando grupos familiares em torno de uma fogueira no fundo de uma caverna, talvez extasiado pela sua conquista, imaginando quantas coisas poderia fazer além de receber calor, luz e proteção contra as feras que rondavam sua primitiva moradia, seu lar.
O pensamento destes homens, de sua descendência por séculos, foi se estruturando em uma fonte de sabedoria que passou a ter caminhos próprios e uma capacidade de transmissão pela escrita, pelos feitos e criações que foram assimilando e estruturando o homem de hoje que, frente a lareira, recupera a gênese do pensamento como se fossem lembranças atávicas transmitidas por genes que vão se ajustando a cada mudança e a cada conquista.
Das conquistas do Período Neolítico até os dias de hoje, talvez a maior conquista tenha sido a que diz respeito a evolução do pensamento, o domínio das idéias e do conhecimento sobre o instinto puro e simples de sobrevivência e um controle sobre suas criações no campo da informática, de modo a dominá-la da mesma forma que o fez com o fogo e com as lascas de silício, pois se o silício acelerou o homem primitivo o mesmo silício está capacitando o homem ao grande salto para o futuro ao compor as unidades básicas de um computador, pois a cibernética é a conquista do pensamento que, assim como o domínio sobre o fogo, colocou o homem na história, criando uma esfera de pensamento universal, a Noosfera e, o domínio da informação e do conhecimento, fará com que esta história tenha futuro e continuidade. Evoluímos, então, do Neolítico para o Noolítico em um piscar de olhos, entre uma chama e outra, entre as fogueiras do Paleolítico e as labaredas das lareiras dos dias atuais enquanto manipulamos o mais novo periférico não orgânico do homem, o computador. Tudo isto sob a hipnose do fogo!
quinta-feira, 28 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
EM TORNO DA MESA
Neiff Satte Alam
Sempre foi necessário mais imaginação para apreender a realidade do que para ignorá-la. (J. Giraudoux)
Pelotas 13 horas, boa tarde!
Reunidos em torno de uma enorme mesa de madeira nobre e escura, com dez microfones bem distribuídos e com uma pauta carregada de hipertextos que a transformam em uma agradável viagem com escalas imprevisíveis, reúnem-se os convidados do Clayton Rocha. As escalas são atemporais e podem ocupar qualquer espaço no planeta, em frações de segundos vai-se de Pedro Osório ao Vaticano e se retorna à mesa.
Em torno desta mesa cruzam-se conversas amistosas, agressivas, irônicas, enfim, qualquer coisa pode ocorrer quando os participantes ficam descontrolados pela veemência, pelas argumentações afoitas ( ou não), pelas diferenças ideológicas e partidárias. Argumentos os mais variados surgem como se fossem coelhos saindo da cartola de um mágico. A diversidade de pensamentos é tal que os debatedores não conseguem escutar quando alguém fala e terminam por falar simultaneamente.
É como se estivéssemos todos junto a um balcão do antigo Bar Baby (um bar que se localizava nos anos 60 na Barroso esquina Gomes Carneiro) debatendo política, futebol, arte, filosofia, educação e....o que mais aparecesse. Enquanto um grupo debatia acaloradamente os ouvintes das mesas próximas ficavam a dar palpites. De certa forma a fauna toda (papagaios falantes e corujas ouvintes) interagia, até mesmo torcidas surgiam e gritos de apoio a um ou outro debatedor era fato comum.
Uns apoiando Fidel Castro, outros apoiando Pinochet e ainda uma série de outros “apoiamentos” a políticos de todas as ideologias possíveis ou imagináveis. “Bernadistas” e “marronitas”, trabalhistas, petistas, neoliberais, fascistas e lacerdistas degladiam-se sob o controle – quando possível controlar – de nosso âncora e de sua fiel escudeira Cláudia.
E os ouvintes? Bem! Estes (im)pacientemente escutam, tomam partido de um ou outro debatedor, incomodam-se quando dois, três ou...todos falam ao mesmo tempo, mas interagem, participam, alguns, não resistindo a incapacidade física de responder ou argumentar, deslocam-se até os estúdios, sobem sete andares de escadas e entram disparando seu verbo como se estivesse conversando com pessoas que conhece a muitos anos, mas que somente conhece suas vozes.
É isto aí amigo Clayton, teu programa faz parte do diálogo que toda a cidade deveria ter com e entre seus cidadãos. É aquela conversa do antigo Bar Baby, é a conversa que está sempre começando no Café Aquário(s), mas que não termina nunca para que se possa retomá-la no dia seguinte.
De qualquer forma é a realidade que se busca apreender. São os fatos que mobilizam a cidade, o estado, o país e o mundo que discutimos em torno desta mesa de madeira nobre e escura onde nada é ignorado para que a Grande Pelotas tenha uma hora e meia de atenção e diálogo e que o Cancelão, Catimbau, Vila Freire, Açoita Cavalo e, pela Internet, o resto do mundo, lugares distantes do Café Aquário(s) sintam-se parte deste pequeno grande universo em que vivemos.
E como diz a Cláudia Rodrigues em sua serena sabedoria: “Este programa tem vida própria”.
Mas o final é sempre o mesmo: “até amanhã”!!!
Sempre foi necessário mais imaginação para apreender a realidade do que para ignorá-la. (J. Giraudoux)
Pelotas 13 horas, boa tarde!
Reunidos em torno de uma enorme mesa de madeira nobre e escura, com dez microfones bem distribuídos e com uma pauta carregada de hipertextos que a transformam em uma agradável viagem com escalas imprevisíveis, reúnem-se os convidados do Clayton Rocha. As escalas são atemporais e podem ocupar qualquer espaço no planeta, em frações de segundos vai-se de Pedro Osório ao Vaticano e se retorna à mesa.
Em torno desta mesa cruzam-se conversas amistosas, agressivas, irônicas, enfim, qualquer coisa pode ocorrer quando os participantes ficam descontrolados pela veemência, pelas argumentações afoitas ( ou não), pelas diferenças ideológicas e partidárias. Argumentos os mais variados surgem como se fossem coelhos saindo da cartola de um mágico. A diversidade de pensamentos é tal que os debatedores não conseguem escutar quando alguém fala e terminam por falar simultaneamente.
É como se estivéssemos todos junto a um balcão do antigo Bar Baby (um bar que se localizava nos anos 60 na Barroso esquina Gomes Carneiro) debatendo política, futebol, arte, filosofia, educação e....o que mais aparecesse. Enquanto um grupo debatia acaloradamente os ouvintes das mesas próximas ficavam a dar palpites. De certa forma a fauna toda (papagaios falantes e corujas ouvintes) interagia, até mesmo torcidas surgiam e gritos de apoio a um ou outro debatedor era fato comum.
Uns apoiando Fidel Castro, outros apoiando Pinochet e ainda uma série de outros “apoiamentos” a políticos de todas as ideologias possíveis ou imagináveis. “Bernadistas” e “marronitas”, trabalhistas, petistas, neoliberais, fascistas e lacerdistas degladiam-se sob o controle – quando possível controlar – de nosso âncora e de sua fiel escudeira Cláudia.
E os ouvintes? Bem! Estes (im)pacientemente escutam, tomam partido de um ou outro debatedor, incomodam-se quando dois, três ou...todos falam ao mesmo tempo, mas interagem, participam, alguns, não resistindo a incapacidade física de responder ou argumentar, deslocam-se até os estúdios, sobem sete andares de escadas e entram disparando seu verbo como se estivesse conversando com pessoas que conhece a muitos anos, mas que somente conhece suas vozes.
É isto aí amigo Clayton, teu programa faz parte do diálogo que toda a cidade deveria ter com e entre seus cidadãos. É aquela conversa do antigo Bar Baby, é a conversa que está sempre começando no Café Aquário(s), mas que não termina nunca para que se possa retomá-la no dia seguinte.
De qualquer forma é a realidade que se busca apreender. São os fatos que mobilizam a cidade, o estado, o país e o mundo que discutimos em torno desta mesa de madeira nobre e escura onde nada é ignorado para que a Grande Pelotas tenha uma hora e meia de atenção e diálogo e que o Cancelão, Catimbau, Vila Freire, Açoita Cavalo e, pela Internet, o resto do mundo, lugares distantes do Café Aquário(s) sintam-se parte deste pequeno grande universo em que vivemos.
E como diz a Cláudia Rodrigues em sua serena sabedoria: “Este programa tem vida própria”.
Mas o final é sempre o mesmo: “até amanhã”!!!
domingo, 17 de abril de 2011
“Dossieologia”, uma fábrica de maldades!
NEIFF SATTE ALAM
“Dossieologia”, uma nova ciência que toma corpo e se amplia anualmente pelo Brasil todo.Para os que não conhecem esta ciência, devo explicar que se trata de uma atividade de produção de dossiês contra os pretendentes a cargos em qualquer esfera pública (Município, Estado ou União). É mais ou menos como aquela história dos caranguejos dentro de um barril: “ uma grande quantidade de caranguejos é colocada dentro de um barril sem tampa e nenhum consegue sair, pois os de baixo puxam os de cima cada vez que algum caranguejo se aproximar da borda do barril”. Os dossieólogos funcionam assim, até entre eles!
A produção deste material se dá em fábricas localizadas nos emaranhados de esgotos cloacais e os “dossieólogos”, pseudo bem informados, são como ratazanas que, mal amadas, com uma reduzida autoestima e providos de poucos neurônios que têm suas ramificações enredadas e mal distribuídas, ficam fermentando inveja e raiva contra qualquer pessoa de bem que venha a ser pensada para algum cargo de confiança.
Dizem que todos os governantes têm um arquivo somente de dossiês encaminhados por estes indivíduos. Ninguém sabe como é que chegam, mas pode-se imaginar estas ratazanas dossieólogas saindo para as valetas, sarjetas e canais de escoamento à noite e, através de serviçais “laranjas”, promovendo a farta distribuição de seu trabalho sujo e que nada contribui para desenvolvimento e melhoria das condições de vida de nossa cidade.
Quando estranhamos que nossos políticos são barrados, podemos ter certeza que, junto com os currículos, chegarão estes tais de dossiês, aliás, uma prática utilizada, no passado pelo ACM, líder baiano, com sua famosa “pasta Cor-de-rosa” cujo interior continha um dossiê que nunca foi aberto ou conhecido, mas funcionou como arma de um político mau caráter, pelo menos nesta ação. Ainda tem “Aloprados”, Arapongas, etc...
Pessoas de bem, que são muitas em nossa cidade, discutindo e comentando esta situação, iniciaram um exercício mental de contenção a estes produtos da dossieologia em franca proliferação. Várias propostas foram levantadas: a mais simples seria ignorar, mas como ignorar a presença fétida destes indivíduos? Como, não os reconhecendo, deixa-los impunes e livres para seguirem com suas maldades? Esta proposta ficou prejudicada; utilizar o mesmo veneno foi argumentado por um dos componentes do grupo, mas, fazer o mesmo, colocar-nos-ia no mesmo patamar do dossieólogo e, de qualquer forma, não fazia parte da índole e do caráter dos componentes do grupo esta forma de agir; a terceira proposta pareceu a mais adequada, não lembro bem quem teve esta brilhante idéia, mas teve a aceitação unânime, teríamos que fazer uma “vaquinha” para juntar uma “grana” que fosse o suficiente para comprar uma passagem de ida, somente de ida, para o Iraque, mais precisamente Bagdá, e propor um curso de pós-graduação em dossieologia a um dos dossieólogos que pudéssemos identificar ( não podemos esquecer que estes atuam nos esgotos e somente saem às ruas na calada da noite). A tese de conclusão do curso seria a montagem de um dossiê contra os xiitas e encaminhado aos sunitas e outra contra os sunitas e enviada aos xiitas. A expectativa é que o nosso pós-graduado, ao defender sua tese, com louvor, recebesse um fraternal abraço de um iraquiano enrolado em dinamites, segundos antes de explodir.
O dossieólogo não sobreviveria, mas teríamos a certeza que seu cérebro não seria doado a ninguém e que seu aprendizado teria o fim que merece.
Mas, como os dossieólogos não existem, isto tudo é uma brincadeira, ninguém ficará ofendido ou se sentirá atingido, a não ser que...
“Dossieologia”, uma nova ciência que toma corpo e se amplia anualmente pelo Brasil todo.Para os que não conhecem esta ciência, devo explicar que se trata de uma atividade de produção de dossiês contra os pretendentes a cargos em qualquer esfera pública (Município, Estado ou União). É mais ou menos como aquela história dos caranguejos dentro de um barril: “ uma grande quantidade de caranguejos é colocada dentro de um barril sem tampa e nenhum consegue sair, pois os de baixo puxam os de cima cada vez que algum caranguejo se aproximar da borda do barril”. Os dossieólogos funcionam assim, até entre eles!
A produção deste material se dá em fábricas localizadas nos emaranhados de esgotos cloacais e os “dossieólogos”, pseudo bem informados, são como ratazanas que, mal amadas, com uma reduzida autoestima e providos de poucos neurônios que têm suas ramificações enredadas e mal distribuídas, ficam fermentando inveja e raiva contra qualquer pessoa de bem que venha a ser pensada para algum cargo de confiança.
Dizem que todos os governantes têm um arquivo somente de dossiês encaminhados por estes indivíduos. Ninguém sabe como é que chegam, mas pode-se imaginar estas ratazanas dossieólogas saindo para as valetas, sarjetas e canais de escoamento à noite e, através de serviçais “laranjas”, promovendo a farta distribuição de seu trabalho sujo e que nada contribui para desenvolvimento e melhoria das condições de vida de nossa cidade.
Quando estranhamos que nossos políticos são barrados, podemos ter certeza que, junto com os currículos, chegarão estes tais de dossiês, aliás, uma prática utilizada, no passado pelo ACM, líder baiano, com sua famosa “pasta Cor-de-rosa” cujo interior continha um dossiê que nunca foi aberto ou conhecido, mas funcionou como arma de um político mau caráter, pelo menos nesta ação. Ainda tem “Aloprados”, Arapongas, etc...
Pessoas de bem, que são muitas em nossa cidade, discutindo e comentando esta situação, iniciaram um exercício mental de contenção a estes produtos da dossieologia em franca proliferação. Várias propostas foram levantadas: a mais simples seria ignorar, mas como ignorar a presença fétida destes indivíduos? Como, não os reconhecendo, deixa-los impunes e livres para seguirem com suas maldades? Esta proposta ficou prejudicada; utilizar o mesmo veneno foi argumentado por um dos componentes do grupo, mas, fazer o mesmo, colocar-nos-ia no mesmo patamar do dossieólogo e, de qualquer forma, não fazia parte da índole e do caráter dos componentes do grupo esta forma de agir; a terceira proposta pareceu a mais adequada, não lembro bem quem teve esta brilhante idéia, mas teve a aceitação unânime, teríamos que fazer uma “vaquinha” para juntar uma “grana” que fosse o suficiente para comprar uma passagem de ida, somente de ida, para o Iraque, mais precisamente Bagdá, e propor um curso de pós-graduação em dossieologia a um dos dossieólogos que pudéssemos identificar ( não podemos esquecer que estes atuam nos esgotos e somente saem às ruas na calada da noite). A tese de conclusão do curso seria a montagem de um dossiê contra os xiitas e encaminhado aos sunitas e outra contra os sunitas e enviada aos xiitas. A expectativa é que o nosso pós-graduado, ao defender sua tese, com louvor, recebesse um fraternal abraço de um iraquiano enrolado em dinamites, segundos antes de explodir.
O dossieólogo não sobreviveria, mas teríamos a certeza que seu cérebro não seria doado a ninguém e que seu aprendizado teria o fim que merece.
Mas, como os dossieólogos não existem, isto tudo é uma brincadeira, ninguém ficará ofendido ou se sentirá atingido, a não ser que...
domingo, 3 de abril de 2011
AS PITANGUEIRAS DE VILA OLIMPO
NEIFF SATTE ALAM
Éramos um grupo considerado terrível para os padrões da época. Todos filhos ou netos de professores na faixa dos 8-9 anos de idade. Dois rios, Piratini e Santa Maria, faziam nossa alegria de verão. No local denominado “Orqueta”, às margens do Rio Santa Maria e a poucos metros de desaguar no Rio Piratini, fazíamos reuniões com grande parte da comunidade de Vila Olimpo (hoje Pedro Osório). Junto às margens do rio, com uma praia de areia grossa, havia um mato com araçazeiros e pitangueiras em meio a açoita-cavalo, aroeiras, maricas, umbus e outras árvores. Araçás e pitangas eram o nosso “café da tarde”, entre um mergulho e outro, entrávamos no mato e colhíamos as frutinhas saborosas, doces e muito saudáveis. Nossa saúde era de “ferro”.
O meio de transporte utilizado para o deslocamento até às margens do rio era a bicicleta, como as ruas não eram calçadas, o exercício físico em meio a areia das ruas completava nosso invejável preparo físico de forma natural e saudável.
A saúde daquela gurizada barulhenta, que saltava da ponte para o rio ou mesmo de suas barrancas que predominavam em uma das margens, era comparável a saúde daquele invejável e equilibrado ambiente que ainda preservava sua biodiversidade, pois dezenas de diferentes aves, insetos, mamíferos, anfíbios e répteis faziam-nos tomar cuidados especiais e nos colocavam como parte daquele ambiente perfeitamente organizado. No rio assistíamos peixes movimentando-se por entre as pernas dos banhistas. Os pescadores da noite contavam o sucesso das pescarias de jundiás, traíras e dourados, utilizando como iscas pequenos lambaris.
Hoje, passados mais de meio século destas aventuras de infância, percebemos como foi importante aquela convivência com um meio ambiente saudável e preservado, pois é indissociável o equilíbrio do meio em que vivemos com o nosso próprio equilíbrio orgânico, mental e espiritual. Aquelas crianças que se banhavam no rio são hoje os educadores, políticos, cientistas, jornalistas, médicos, agrônomos e veterinários atuantes na região, no Estado e no País e a lembrança daqueles tempos nos obriga a fazermos linha de frente para que aquele rio e todos os rios, aquela praia e todas as praias, aquela mata e todas as matas recuperem sua organização em clímax, superem as investidas desenvolvimentistas e permitam o retorno a um ambiente saudável para que voltemos a ser saudáveis. É urgente que tomemos consciência de nossa responsabilidade para com o futuro e que não nos entreguemos como bois ao matadouro, sem lutar, pois existem muitos outros caminhos para o desenvolvimento sem que tenhamos que comprometer o já tão desgastado meio ambiente, pois este é nossa verdadeira casa. Vamos ter coragem e voltar a ter saúde, dignidade e alta autoestima e exigir de nossos governantes mais criatividade para que não se entreguem a soluções fáceis e programadas para usufruir o que mais sagrado temos: nossa casa-Terra.
Éramos um grupo considerado terrível para os padrões da época. Todos filhos ou netos de professores na faixa dos 8-9 anos de idade. Dois rios, Piratini e Santa Maria, faziam nossa alegria de verão. No local denominado “Orqueta”, às margens do Rio Santa Maria e a poucos metros de desaguar no Rio Piratini, fazíamos reuniões com grande parte da comunidade de Vila Olimpo (hoje Pedro Osório). Junto às margens do rio, com uma praia de areia grossa, havia um mato com araçazeiros e pitangueiras em meio a açoita-cavalo, aroeiras, maricas, umbus e outras árvores. Araçás e pitangas eram o nosso “café da tarde”, entre um mergulho e outro, entrávamos no mato e colhíamos as frutinhas saborosas, doces e muito saudáveis. Nossa saúde era de “ferro”.
O meio de transporte utilizado para o deslocamento até às margens do rio era a bicicleta, como as ruas não eram calçadas, o exercício físico em meio a areia das ruas completava nosso invejável preparo físico de forma natural e saudável.
A saúde daquela gurizada barulhenta, que saltava da ponte para o rio ou mesmo de suas barrancas que predominavam em uma das margens, era comparável a saúde daquele invejável e equilibrado ambiente que ainda preservava sua biodiversidade, pois dezenas de diferentes aves, insetos, mamíferos, anfíbios e répteis faziam-nos tomar cuidados especiais e nos colocavam como parte daquele ambiente perfeitamente organizado. No rio assistíamos peixes movimentando-se por entre as pernas dos banhistas. Os pescadores da noite contavam o sucesso das pescarias de jundiás, traíras e dourados, utilizando como iscas pequenos lambaris.
Hoje, passados mais de meio século destas aventuras de infância, percebemos como foi importante aquela convivência com um meio ambiente saudável e preservado, pois é indissociável o equilíbrio do meio em que vivemos com o nosso próprio equilíbrio orgânico, mental e espiritual. Aquelas crianças que se banhavam no rio são hoje os educadores, políticos, cientistas, jornalistas, médicos, agrônomos e veterinários atuantes na região, no Estado e no País e a lembrança daqueles tempos nos obriga a fazermos linha de frente para que aquele rio e todos os rios, aquela praia e todas as praias, aquela mata e todas as matas recuperem sua organização em clímax, superem as investidas desenvolvimentistas e permitam o retorno a um ambiente saudável para que voltemos a ser saudáveis. É urgente que tomemos consciência de nossa responsabilidade para com o futuro e que não nos entreguemos como bois ao matadouro, sem lutar, pois existem muitos outros caminhos para o desenvolvimento sem que tenhamos que comprometer o já tão desgastado meio ambiente, pois este é nossa verdadeira casa. Vamos ter coragem e voltar a ter saúde, dignidade e alta autoestima e exigir de nossos governantes mais criatividade para que não se entreguem a soluções fáceis e programadas para usufruir o que mais sagrado temos: nossa casa-Terra.
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