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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Desutilidades



Neiff Satte Alam

Dia destes, observando a minha auxiliar para trabalhos domésticos tirar o pó de uma estante de livros com um interessante espanador de penas, percebi que o que estava acontecendo era simplesmente uma mudança de lugar do pó, isto é, o espanador trocava o pó de lugar, menos, é claro, o pó que se encontrava embaixo dos livros e de alguns outros objetos, entre os quais algumas pequenas toalhas rendadas, pois, ao retirá-las da prateleira, verifiquei que a marca da renda estava impressa na madeira!

Realmente existem muitas “desutilidades” domésticas. Por vezes encontramos nas gavetas da cozinha alguns objetos comprados de camelôs que faziam maravilhas com descascadores de batata, cenoura, laranja e tudo o mais que se come sem casca, mas, em casa nunca funcionam. Faca de dois gumes, então, servem para cortar os dedos das cozinheiras; e os abridores de latas cheios de engrenagens e outras “parafusetas” que dormem permanentemente no fundo das gavetas e passamos a utilizar os tradicionais, simples e funcionais? Estas coisas todas não superam as armadilhas dos brinquedos eletrônicos da Coréia ou da China, quando funcionam têm vida curtíssima, pois as pilhas comuns não servem, as conexões são encerradas em compartimentos colados e inacessíveis, finalmente “jazem” e em algum armário, assim como DVDs piratas do tipo “usa uma vez e põe fora” (quando se consegue ver o filme todo).

A lista poderia ser aumentada cem vezes, bastaria que fizéssemos uma breve concentração. Entrariam neste rol, sem muito esforço, projetos de recuperação da Educação Básica, de recuperação salarial dos aposentados, CPIs para investigar irregularidades de lá e daqui, enfim uma gama enorme de ações que se constituem em “desutilidades”, não por serem desnecessárias, mas por serem formas disfarçadas de fazer de conta que os parlamentares, em sua maioria, estão trabalhando para atender as demandas sociais.



Entre as “desutilidades” mais marcantes no campo da política brasileira estão os coronéis nortistas e nordestinos comandando o Senado. Qual a utilidade, por exemplo, de um Sarney ou de um Collor? Fora as discussões de beleza e de apoio mútuo, o que mais fazem ou fizeram pelos eleitores?

O pior é que não dá nem para espanar, pois se o fizermos estaremos mudando de lugar esta poeira parlamentar. Dizem que utilizaram um enorme espanador de penas de ema para tirar o Sarney do Maranhão, mas, da mesma forma que o pó do meu escritório, mudou de lugar: foi parar no ...  Amapá !