Neiff Satte Alam
Dia destes, observando a minha auxiliar para
trabalhos domésticos tirar o pó de uma estante de livros com um interessante
espanador de penas, percebi que o que estava acontecendo era simplesmente uma
mudança de lugar do pó, isto é, o espanador trocava o pó de lugar, menos, é
claro, o pó que se encontrava embaixo dos livros e de alguns outros objetos,
entre os quais algumas pequenas toalhas rendadas, pois, ao retirá-las da
prateleira, verifiquei que a marca da renda estava impressa na madeira!
Realmente existem muitas “desutilidades”
domésticas. Por vezes encontramos nas gavetas da cozinha alguns objetos
comprados de camelôs que faziam maravilhas com descascadores de batata,
cenoura, laranja e tudo o mais que se come sem casca, mas, em casa nunca
funcionam. Faca de dois gumes, então, servem para cortar os dedos das
cozinheiras; e os abridores de latas cheios de engrenagens e outras
“parafusetas” que dormem permanentemente no fundo das gavetas e passamos a
utilizar os tradicionais, simples e funcionais? Estas coisas todas não superam
as armadilhas dos brinquedos eletrônicos da Coréia ou da China, quando
funcionam têm vida curtíssima, pois as pilhas comuns não servem, as conexões
são encerradas em compartimentos colados e inacessíveis, finalmente “jazem” e
em algum armário, assim como DVDs piratas do tipo “usa uma vez e põe fora”
(quando se consegue ver o filme todo).
A lista poderia ser aumentada cem vezes,
bastaria que fizéssemos uma breve concentração. Entrariam neste rol, sem muito
esforço, projetos de recuperação da Educação Básica, de recuperação salarial
dos aposentados, CPIs para investigar irregularidades de lá e daqui, enfim uma
gama enorme de ações que se constituem em “desutilidades”, não por serem
desnecessárias, mas por serem formas disfarçadas de fazer de conta que os
parlamentares, em sua maioria, estão trabalhando para atender as demandas
sociais.
Entre as “desutilidades” mais marcantes no
campo da política brasileira estão os coronéis nortistas e nordestinos comandando
o Senado. Qual a utilidade, por exemplo, de um Sarney ou de um Collor? Fora as
discussões de beleza e de apoio mútuo, o que mais fazem ou fizeram pelos
eleitores?
O pior é que não dá nem para espanar, pois se
o fizermos estaremos mudando de lugar esta poeira parlamentar. Dizem que
utilizaram um enorme espanador de penas de ema para tirar o Sarney do Maranhão,
mas, da mesma forma que o pó do meu escritório, mudou de lugar: foi parar no
... Amapá !