NEIFF
SATTE ALAM
Uma formiga preta correndo para fugir ao
ataque impiedoso de um pequeno pássaro teve a sorte de se aproximar do lugar em
que, sentado, a observava atentamente. Uma vencedora esta formiga, pensei,
escapou do primeiro inimigo e já ganhou a simpatia do segundo, que seria eu.
Tenho
sido um feroz algoz de formigas, pois as extermino com veneno, com esmagamento
ou simplesmente deixando os insetívoros fazerem seu trabalho, mas neste caso,
talvez sensibilizado pela resistência e coragem do animalzinho, entendi
deixa-la viver, até ajudei colocando-a dentro do formigueiro e perdendo-a de
vista em meio a multidão de companheiras
Antes
deste ato de bondade, pude observar atentamente a perfeição de seus movimentos,
seis patas firmemente articuladas ao tórax imprimiam um deslocamento com nexo,
provavelmente orientado por dois olhos facetados auxiliados por três ocelos que
se ajustavam em um campo visual de extrema qualidade; as duas antenas
movimentavam-se freneticamente apalpando tudo que vinha pela frente, até outras
formigas, parecia que se cumprimentavam, mas rapidamente se afastavam, pois não
podiam perder tempo com conversa fiada. Trabalhar era a regra.
Interessante
ter fixado a atenção naquela formiga, afinal o DNA diz que elas são da mesma
espécie, têm o mesmo comportamento, as mesmas necessidades funcionais, mas
aquela formiga pareceu mais importante, o seu momento era especial, as outras poderiam morrer, mas ela não. As
outras poderiam ter o mesmo desempenho no seu papel de equilíbrio ambiental,
mas ela teve uma entrada em cena que a tornou merecedora de uma vida um pouco
mais longa.
Estava
envolvido por estes pensamentos quando uma notícia na televisão desviou minha
atenção: ‘o exército americano entrou em conflito com grupo talibã e matou
vários deles’, na continuação da
notícia, ‘Porta-aviões americano leva auxílio ao Haiti e consegue que seus
soldados retirem várias pessoas que estavam soterradas em razão do
desmoronamento de um Supermercado’.
As
pessoas residentes no Planeta, dependendo do humor de algum poderoso, poderão
viver ou morrer. Se somos todos originados do mesmo DNA, independentemente de
termos nascido no Haiti ou Afeganistão, não mereceríamos o mesmo tratamento? O
coturno que esmaga um talibã não pertence ao mesmo exército que se esforça em
salvar uma vida?
Não
sei responder estas perguntas, mas de qualquer forma passarei a ter dificuldade
em matar formigas de agora em diante... claro que o Obama não está nem aí para
minhas dúvidas, afinal tem o mundo inteiro para salvar ou matar! O que são
algumas formigas...?