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domingo, 29 de julho de 2012

Um passeio pelo parque

Neiff Satte Alam

         “Que formidável determinismo pesa sobre o conhecimento! Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao pondo onde devemos ir.” (Edgar Morin, O Método 4)

     Imprinting cultural (este termo surge como proposta de  Konrad Lorenz, “marca incontornável imposta pelas primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance”.) e conformismo a visão cultural que ocorre em todas classes sociais e muito evidente nas esferas intelectuais e universitárias. Libertar-se deste processo de estagnação e “que nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com nossas crenças, e o recalque eliminatório , que nos faz recusar toda informação inadequada à nossas convicções, ou toda objeção vinda de fonte considerada má”, é o desfio dos que percebem através de uma janela não linear de pensamento, pois, em muitos casos, a linearidade imposta por uma visão determinista pode ocasionar um freio na expansão cultural e uma aceleração na frente conservadora, permitam-me o paradoxo, retardando as necessárias mudanças culturais. Como disse Feyerabend, citado por Morin, “ a aparência da verdade absoluta nada é mais do que o resultado de um conformismo absoluto”.

     A inconformidade, a recusa de seguir o imprinting cultural, a necessidade de buscar alternativas que não estão previstas, mas podem constituir novos caminhos, diferentes do que estava determinado, deverá se constituir em uma possibilidade de criação de novos ângulos culturais, sem que se necessite negar a existência ou importância das culturas ou manifestações culturais existentes, muito menos ignorar os sincretismos que evoluem para novas manifestações culturais, até mesmo na fixação de novas culturas.

     A mobilidade das ideias é um importante fator de compreensão da visão não linear, que nos impõe compreender que toda a evolução cultural parte de culturas anteriores, representadas das mais diferentes formas, muitas vezes abafadas pelas novas culturas, que não as desconhece ( pelo menos deveria ser assim), mas as coloca em patamares de difícil acesso às pessoas que não se dedicam ao estudo destas.

     Colocar-se, por exemplo, em frente a um prédio neoclássico, de valor histórico/cultural um pequeno prédio de um estilo eclético (neste caso uma mistura de estilo e matérias de construção)fere a visão cultural ou o imprintig cultural? Colocar-se em frente a um prédio de estilo eclético um elemento arquitetônico de estilo neoclássico, fere a visão cultural ou o imprinting cultural? Por outro lado, fazer um monumento em forma de um monolito negro, sem estilo definido, mas em “homenagem à Bíblia”, não fere o imprinting cultural? Estas discrepâncias de pensamento não seriam de certa forma uma busca da verdade absoluta que, se tivessem prevalecido em outros momentos históricos, não teríamos toda esta riqueza cultural arquitetônica que alimenta nossas ideias contemporâneas?
     Foram estas idéias “não lineares” que surgiram em minhas reflexões – uma forma de discussão  não falada, ao contornar o Parque Júlio de Castilhos, atualmente Parque Dom Antônio Zatter. Local de alta concentração de discussões acadêmicas sobre importantes questões culturais, artísticas, estilo arquitetônico e outros que tais, mas ... não esqueçam o monolito religioso

quarta-feira, 18 de julho de 2012

EDUARDO LEITE E PAULA - A PELOTAS DO FUTURO INICIA AQUI!



A VONTADE FAZ O CAMINHO



NEIFF SATTE ALAM


 “O universo só é conhecido pelo homem através da lógica e das matemáticas, produtos do seu espírito, mas ele só pode compreender como as construiu estudando a si mesmo, psicológica e biologicamente, ou seja, em função do universo inteiro. Piaget”.



Quando se diz que a vontade faz o caminho, estamos estabelecendo as regras de conduta que estabelecerão as diretrizes que nortearão a caminhada. Esta caminhada será sempre no sentido da construção de uma escola forte, unida e harmonizada com seu contexto. Quando perguntaram a Khalil Gibran o que ele entendia sobre ensino, este respondeu:

“ Nenhum homem poderá revelar-vos nada senão o que já está meio adormecido na aurora do vosso entendimento..

O mestre que caminha à sombra do templo, rodeado de discípulos, não dá de sua sabedoria, mas sim de sua fé e de sua ternura.

Se ele for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na mansão de seu saber, mas antes vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente.”

Este é o nosso caminho. O caminho da fé, da ternura e do saber. Isto é o que esperam de nós professores todas aquelas crianças e jovens que ansiosamente e assustados estão sentados nas salas de aula.

O caminho da escola de hoje transcende os limites da insipiente interdisciplinaridade que apenas mascara o grave problema do reducionismo determinado pela elevada especialização, pois quando ganhamos conhecimento por um lado inevitavelmente fazemos crescer a ignorância de outro (ganho de conhecimento X ganho de ignorância).

Em meio a este turbilhão, a escola tenta sobreviver. Busca por meios próprios alcançar sua aptidão para produzir conhecimento (competência) que, aliando-se a atividade cognitiva, leva-nos a um “saber” – conhecimento do conhecimento.

É nesta cruzada ética que se encontra a escola de hoje. Há um conflito entre o poder e o saber: “... Enfim, em toda a história humana, a atividade cognitiva interagiu de modo ao mesmo tempo complementar e antagônico com a ética, o mito, a religião, a política: o poder, com freqüência controlou o saber para controlar o poder do saber”. (E.Morin).

A vontade de espantar o fantasma do reducionismo que assombra a educação terá que ser mais forte do que a necessidade deste de assumir o controle do saber fragmentado. Mesmo que considerando insipiente a ação interdisciplinar hoje proposta pelas escolas, nesta ação é que encontramos os rumos para trilharmos o caminho da desfragmentação do conhecimento devolvendo-lhe a característica multidimensional, embora culturalmente tenhamos a tendência a esfacelá-lo. Este esfacelamento faz com que surjam conhecimentos distintos e, com mais gravidade, faz-nos perder a visão do todo. Deixamos de contextualizar e perdemos a aptidão de produzir conhecimento, dificultando a caminhada.

A escola deve sair em busca do saber, do conhecimento do conhecimento. “...Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento; onde está o conhecimento perdido na informação?” ( T.S. Eliot, citado por E. Morin).


EDUARDO LEITE

RESPEITO COM OS IDOSOS...

PELOTAS INICIARÁ OS PRÓXIMOS 200 ANOS COM EDUARDO E PAULA!!!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Difícil de explicar, fácil de entender!

                                          NEIFF SATTE ALAM

     Uma formiga preta correndo para fugir ao ataque impiedoso de um pequeno pássaro teve a sorte de se aproximar do lugar em que, sentado, a observava atentamente. Uma vencedora esta formiga, pensei, escapou do primeiro inimigo e já ganhou a simpatia do segundo, que seria eu.

     Tenho sido um feroz algoz de formigas, pois as extermino com veneno, com esmagamento ou simplesmente deixando os insetívoros fazerem seu trabalho, mas neste caso, talvez sensibilizado pela resistência e coragem do animalzinho, entendi deixa-la viver, até ajudei colocando-a dentro do formigueiro e perdendo-a de vista em meio a multidão de companheiras

     Antes deste ato de bondade, pude observar atentamente a perfeição de seus movimentos, seis patas firmemente articuladas ao tórax imprimiam um deslocamento com nexo, provavelmente orientado por dois olhos facetados auxiliados por três ocelos que se ajustavam em um campo visual de extrema qualidade; as duas antenas movimentavam-se freneticamente apalpando tudo que vinha pela frente, até outras formigas, parecia que se cumprimentavam, mas rapidamente se afastavam, pois não podiam perder tempo com conversa fiada. Trabalhar era a regra.

     Interessante ter fixado a atenção naquela formiga, afinal o DNA diz que elas são da mesma espécie, têm o mesmo comportamento, as mesmas necessidades funcionais, mas aquela formiga pareceu mais importante, o seu momento era especial,  as outras poderiam morrer, mas ela não. As outras poderiam ter o mesmo desempenho no seu papel de equilíbrio ambiental, mas ela teve uma entrada em cena que a tornou merecedora de uma vida um pouco mais longa.

     Estava envolvido por estes pensamentos quando uma notícia na televisão desviou minha atenção: ‘o exército americano entrou em conflito com grupo talibã e matou vários deles’, na  continuação da notícia, ‘Porta-aviões americano leva auxílio ao Haiti e consegue que seus soldados retirem várias pessoas que estavam soterradas em razão do desmoronamento de um Supermercado’.

     As pessoas residentes no Planeta, dependendo do humor de algum poderoso, poderão viver ou morrer. Se somos todos originados do mesmo DNA, independentemente de termos nascido no Haiti ou Afeganistão, não mereceríamos o mesmo tratamento? O coturno que esmaga um talibã não pertence ao mesmo exército que se esforça em salvar uma vida?

     Não sei responder estas perguntas, mas de qualquer forma passarei a ter dificuldade em matar formigas de agora em diante... claro que o Obama não está nem aí para minhas dúvidas, afinal tem o mundo inteiro para salvar ou matar! O que são algumas formigas...?