Neiff Satte Alam
“Que formidável determinismo pesa sobre o
conhecimento! Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o
que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça rumos, estabelece os limites,
ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao pondo onde devemos ir.” (Edgar
Morin, O Método 4)
Imprinting cultural (este termo surge como
proposta de Konrad Lorenz, “marca
incontornável imposta pelas primeiras experiências do jovem animal, como o
passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser
vivo ao seu alcance”.) e conformismo a visão cultural que ocorre em todas
classes sociais e muito evidente nas esferas intelectuais e universitárias.
Libertar-se deste processo de estagnação e “que
nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com nossas crenças, e o
recalque eliminatório , que nos faz recusar toda informação inadequada à nossas
convicções, ou toda objeção vinda de fonte considerada má”, é o desfio dos
que percebem através de uma janela não linear de pensamento, pois, em muitos
casos, a linearidade imposta por uma visão determinista pode ocasionar um freio
na expansão cultural e uma aceleração na frente conservadora, permitam-me o
paradoxo, retardando as necessárias mudanças culturais. Como disse Feyerabend,
citado por Morin, “ a aparência da
verdade absoluta nada é mais do que o resultado de um conformismo absoluto”.
A
inconformidade, a recusa de seguir o imprinting cultural, a necessidade de
buscar alternativas que não estão previstas, mas podem constituir novos caminhos,
diferentes do que estava determinado, deverá se constituir em uma possibilidade
de criação de novos ângulos culturais, sem que se necessite negar a existência
ou importância das culturas ou manifestações culturais existentes, muito menos
ignorar os sincretismos que evoluem para novas manifestações culturais, até
mesmo na fixação de novas culturas.
A mobilidade das ideias é um importante
fator de compreensão da visão não linear, que nos impõe compreender que toda a
evolução cultural parte de culturas anteriores, representadas das mais
diferentes formas, muitas vezes abafadas pelas novas culturas, que não as
desconhece ( pelo menos deveria ser assim), mas as coloca em patamares de
difícil acesso às pessoas que não se dedicam ao estudo destas.
Colocar-se, por exemplo, em frente a um
prédio neoclássico, de valor histórico/cultural um pequeno prédio de um estilo
eclético (neste caso uma mistura de estilo e matérias de construção)fere a
visão cultural ou o imprintig cultural? Colocar-se em frente a um prédio de
estilo eclético um elemento arquitetônico de estilo neoclássico, fere a visão
cultural ou o imprinting cultural? Por outro lado, fazer um monumento em forma
de um monolito negro, sem estilo definido, mas em “homenagem à Bíblia”, não
fere o imprinting cultural? Estas discrepâncias de pensamento não seriam de
certa forma uma busca da verdade absoluta que, se tivessem prevalecido em
outros momentos históricos, não teríamos toda esta riqueza cultural
arquitetônica que alimenta nossas ideias contemporâneas?
Foram estas idéias “não lineares” que
surgiram em minhas reflexões – uma forma de discussão não falada, ao contornar o Parque Júlio de
Castilhos, atualmente Parque Dom Antônio Zatter. Local de alta concentração de
discussões acadêmicas sobre importantes questões culturais, artísticas, estilo
arquitetônico e outros que tais, mas ... não esqueçam o monolito religioso