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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Papai Noel existe!





Neiff Satte Alam

É dura esta vida de Papai Noel. Início de inverno, uma neve gostosa, a lareira funcionando e estalando com esta lenha ardendo e tenho que subir neste trenó ridículo, com renas que não estão nem um pouquinho satisfeitas de terem que sair voando por este mundo a fora.
Querem saber mais de meus problemas?
Bem, os meus assistentes para o Brasil e o resto da América do Sul entraram em greve, dizem que, se não receberem hora extra em dobro para trabalhar na noite de Natal, não movimentam um dedo para a distribuição de presentes; tem ainda a insalubridade e periculosidade, pois sobrevoar a área dominada pelas FARC é um risco permanente, somente no ano passado cinco trenós foram abatidos por serem confundidos com aeronaves do governo; ainda há o enorme risco de descerem chaminés estreitas, alguns assessores ficaram trancados por vários meses em chaminés de lareiras que nem são utilizadas, pois, em razão do clima de algumas regiões do Brasil e de outros países da América do Sul, servem apenas como enfeite; um trenó desceu equivocadamente no Estádio do Morumbi, em São Paulo, a roubalheira num jogo era tamanha que roubaram as renas e todos os presentes e o seguro não foi pago até hoje.
Não adianta reclamar, tenho mesmo  que por esta roupa vermelha com pele branca e este gorro bicudo com um pompom na  ponta, ensaiar aquela risada característica – HO HO HO, atrelar as renas especiais e sair voando por aí.
A chegada no Brasil foi um problema, pois a temperatura de mais de 35 graus me desidratou e tive que ficar um dia inteiro por conta do SUS em uma cidadezinha do Piauí e as renas foram apreendidas pelo IBAMA, até que provasse que Papai Noel existia e que não era São Nicolau, tive ameaça de prisão, mas não me livrei de um pagamento efetivo de multa por maltrato de animais e por contrabando de brinquedos.
Dois dias depois fui interceptado pelo pessoal do Conselho da Criança e do Adolescente e tive que dar explicações sobre a discriminação na hora de dar os presentes, pois algumas crianças recebem presentes mais caros, outras mais baratos e muitas sequer recebem. Fui obrigado a dar uma aula de neoliberalismo, globalização, capitalismo, socialismo, escotismo, política e até de ufologia, pois como explicar minhas aparições simultâneas em milhares de lares em uma única noite? Claro que isto não expliquei, faz parte do segredo profissional do Papai Noel.
De qualquer maneira, pretendo cumprir meu papel, mesmo que muitos pais fiquem dizendo às criancinhas que não existo. Se eu não existisse, como as lojas venderiam tantos brinquedos? Como existiriam tantos imitadores (horríveis, diga-se de passagem) espalhados pelo mundo? Papai Noel existe, sim! Alguns são bem aquinhoados, muitos assalariados, muitos desempregados, mas existe. Não usam roupa vermelha com peles brancas, não possuem trenó com renas, não entram pelas chaminés das casas, mas, como o Papai Noel desta história, têm enormes dificuldades para finalmente colocarem os presentes possíveis junto a cama dos pequeninos para que a ilusão do Natal não se perca, mas que fique gravada como um grande amor dos pais pelos filhos, mesmo tendo que enfrentar as maiores adversidades. Este foi o grande segredo que o Papai Noel não quis revelar: como chegar a todos os lares na mesma noite? Realmente Papai Noel existe, você se encontra com ele todos os dias do ano!