Powered By Blogger

sábado, 31 de dezembro de 2011

A ERA DA MARIA FUMAÇA




                                  Neiff Satte Alam

     Fumegantes, espalhando fuligem e vapor d’água para todos os lados e com um ruído típico de atrito de ferro contra ferro misturado ao badalar de um sino, poderosas locomotivas faziam o movimento da Estação Férrea de Vila Olimpo. Com uma inscrição prateada em sua lateral que a todos orgulhava: VFRGS – Viação Férrea do Rio Grande do Sul, aqueles monstros negros puxavam dezenas de vagões, desde vagões de carga de bois e de combustível até vagões de passageiros com seu carro Buffet , um verdadeiro restaurante sobre trilhos.
     A chegada do trem passageiro das treze horas, vindo de Pelotas, era uma festa para a pequena comunidade. Pastéis, cestinhas de butiá e araçá eram vendidas aos passageiros. A criançada ficava pressionando os viajantes para carregarem suas malas até o Hotel Familiar que ficava do outro lado da Praça Piratini, alguns, com suas caixas de engraxate, poliam sapatos e botas.
     Carroças e carretas retiravam cargas de farinha de trigo para a Padaria Esperança e mercadoria para o Armazém Olimpo e outros da localidade.
     Pouco antes da chegada do trem, em um outro local, pacientemente e cautelosamente,  a Agente dos Correios de Vila Olimpo, Ata Feijó, fechava o malote de correspondências em um ambiente com forte cheiro de goma arábica de fabricação caseira. Malote fechado, porta trancada onde se via um aviso “NÃO BATA, ATA”, a Agente do Correio, utilizando-se de um carrinho de mão e da colaboração de algum guri da vizinhança, dirigia-se à Estação Férrea para colocar no trem a correspondência e retirar a que tinha chegado. Uma das maiores festas era a chegada das cartas, jornais e outras encomendas, algumas vindas do distante Líbano para a alegria da enorme legião de libaneses que havia fixado residência em Vila Olimpo e ali se instalando em um promissor comércio.
     Enquanto a locomotiva “bebia” água, os passageiros que sairiam do lugarejo compravam suas passagens que se constituíam em um cartão pequeno de duas cores e que seria perfurado pelo “chefe de trem” logo após a saída.
     Três toques com diferenças de minutos de um sino de origem francesa pelo Agente da Estação, depois que o telegrafista assegurava-se que não viria nem uma outra composição em sentido contrário, indicavam o momento da partida.
     O  trem já ia longe e ainda se percebia a sua passagem pela presença de brasas entre os trilhos e o movimento de vagonetas com “tucos” que se apressavam em deslocar-se para locais onde houvesse algum problema nos trilhos ou nos dormentes.
     Aos poucos a Estação e praça ficavam vazias. O único movimento que lembrava a chegada do trem era a fila na frente do correio.
     Os sons dos trens eram, então, a música que identificava a vida naquela vila ferroviária...então aguardávamos o trem das 20h!!