Neiff Satte
Alam
Fumegantes, espalhando fuligem e vapor
d’água para todos os lados e com um ruído típico de atrito de ferro contra
ferro misturado ao badalar de um sino, poderosas locomotivas faziam o movimento
da Estação Férrea de Vila Olimpo. Com uma inscrição prateada em sua lateral que
a todos orgulhava: VFRGS – Viação Férrea do Rio Grande do Sul, aqueles monstros
negros puxavam dezenas de vagões, desde vagões de carga de bois e de
combustível até vagões de passageiros com seu carro Buffet , um verdadeiro
restaurante sobre trilhos.
A chegada do trem passageiro das treze
horas, vindo de Pelotas, era uma festa para a pequena comunidade. Pastéis,
cestinhas de butiá e araçá eram vendidas aos passageiros. A criançada ficava
pressionando os viajantes para carregarem suas malas até o Hotel Familiar que
ficava do outro lado da Praça Piratini, alguns, com suas caixas de engraxate,
poliam sapatos e botas.
Carroças e carretas retiravam cargas de
farinha de trigo para a Padaria Esperança e mercadoria para o Armazém Olimpo e
outros da localidade.
Pouco antes da chegada do trem, em um outro
local, pacientemente e cautelosamente, a
Agente dos Correios de Vila Olimpo, Ata Feijó, fechava o malote de
correspondências em um ambiente com forte cheiro de goma arábica de fabricação
caseira. Malote fechado, porta trancada onde se via um aviso “NÃO BATA, ATA”, a
Agente do Correio, utilizando-se de um carrinho de mão e da colaboração de
algum guri da vizinhança, dirigia-se à Estação Férrea para colocar no trem a
correspondência e retirar a que tinha chegado. Uma das maiores festas era a
chegada das cartas, jornais e outras encomendas, algumas vindas do distante
Líbano para a alegria da enorme legião de libaneses que havia fixado residência
em Vila Olimpo
e ali se instalando em um promissor comércio.
Enquanto a locomotiva “bebia” água, os
passageiros que sairiam do lugarejo compravam suas passagens que se constituíam
em um cartão pequeno de duas cores e que seria perfurado pelo “chefe de trem”
logo após a saída.
Três toques com diferenças de minutos de um
sino de origem francesa pelo Agente da Estação, depois que o telegrafista
assegurava-se que não viria nem uma outra composição em sentido contrário,
indicavam o momento da partida.
O
trem já ia longe e ainda se percebia a sua passagem pela presença de
brasas entre os trilhos e o movimento de vagonetas com “tucos” que se
apressavam em deslocar-se para locais onde houvesse algum problema nos trilhos
ou nos dormentes.
Aos poucos a Estação e praça ficavam
vazias. O único movimento que lembrava a chegada do trem era a fila na frente
do correio.
Os sons dos trens eram, então, a música que
identificava a vida naquela vila ferroviária...então aguardávamos o trem das 20h!!