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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ZÉ DA SILVA, CIDADÃO SEM COMPROMISSO...

NEIFF SATTE ALAM

"Quando a última árvore tiver sido derrubada, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe tiver sido pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come - Greenpeace"

E agora José? A máquina estancou, o homem parou e o tronco mutilado ri da ignorância do homem frente ao ser mutilado, mas firmemente enraizado que se insurge.
E agora José? A sequóia e a palmeira, vizinhas do tronco mutilado, antes uma árvore frondosa, soberana e dona de uma sombra fantástica, choram ao perceberem o sofrimento desta maravilhosa figueira.
E agora José? Apesar das motosserras, dos tratores com lâminas poderosas, que circulam sobre esteiras, como fazer para retirar rapidamente, antes que uma comoção maior ocorra, os restos desta vítima da inconseqüência?
E agora José? Como explicar, nas Escolas, às crianças, que começam a querer entender a importância da harmonia entre todos os seres vivos e destes com o ambiente não vivo (abiótico), as razões destas ações e as justificativas técnicas?
E agora José? Será que estão garantidas as demais, sem considerar dezenas de outras que já sucumbiram antes, da força das motosseras? Magnólias, pinheiros, jacarandás, sequóias, carvalhos, cedros, pau-brasil e tantas outras, quando serão marcadas para morrer? Pois algumas já estão!
E agora José? O que deverá acontecer com as outras praças e parques? Que determinações existem para a “harmonização” destes outros ambientes? Quem poderá impedir que outras árvores, em calçadas ou em pátios, pelos mesmos motivos alegados pelos organismos encarregados de tal façanha, não sejam retiradas?
E agora José? Como explicar às pessoas em geral que cada árvore plantada tem uma história? Conhecida ou não, a mão que plantou ou semeou ali deixou um pouco da sua história, um pouco do momento histórico e muito de sua energia. A energia emanada pelo trabalho e ação do homem se estende as suas ações, pois, quando vemos uma árvore plantada pelo nosso pai, mãe ou algum amigo temos, por esta árvore, um especial carinho, não só por ela, mas, pela pessoa que a plantou, isto a torna especial, diferente. Na Praça Cel. Pedro Osório, muitas árvores forma plantadas, cuidadas e sempre vistas com um especial carinho porque, com certeza, também têm uma história particular, mas que se integra ao conjunto das histórias das demais.
Rompida esta harmonia, todas as plantas da praça deverão buscar um novo equilíbrio, assim como a fauna ali existente. Quando mexemos algumas árvores por pura razão estética, mexemos com toda a harmonia do sistema do qual fazem parte. Será que esta nova harmonia estará dentro das expectativas dos responsáveis pelo fato? Como saber se, de tão perdidos que estamos, cortamos árvores onde não devíamos e, pior, quando plantamos o fazemos em lugares errados?
Pois é José, e agora?



Fotos: Ficus elástica (falsa seringueira), na praça Cel. Pedro Osório em Pelotas, em processo de mutilação da praça no dia 25 de maio de 2007.