Neiff Satte Alam
O verão deste ano promete ser muito quente, pois estamos no primeiro dia
de janeiro do ano de 1956 e a temperatura já chegou aos 30 graus. Somos um
grupo de crianças, seis ao todo e alguns adultos a sombra de um cinamomo, árvore
também conhecida como paraíso, aliás, antes de ser vila Olimpo, quando esta
localidade foi elevada a Vila, o nome
era Paraíso, mas como já existia uma outra Vila, mais antiga, com este
nome, entenderam de denominar de Olimpo, que também seria uma morada dos
deuses, embora o anterior nome se devesse ao nome da árvore e nada a ver com o
paraíso bíblico.
Bem, voltando ao grupo à sombra do
cinamomo, ou paraíso, como queiram, ali estávamos reunidos aguardando o nosso
transporte que tinha sido enviado pelo tio Ito, morador do outro lado do rio
Piratini, na Vila Cerrito, e que aguardava-nos, como anualmente acontecia para
um churrasco em sua olaria a beira do rio.
O meio de transporte era uma carreta
puxada por dois bois gigantescos aos nossos olhos de crianças, firmemente
amarrados a uma canga de madeira grosseira e de construção artesanal..
Subimos todos fazendo uma enorme
algazarra e lentamente, rangendo e balançando, a carreta foi se deslocando em
direção ao rio Piratini. Passamos pela Estação Ferroviária onde se lia o nome
de Olimpo, mas nem sempre foi assim, antes esta Estação era denominada de Ivo
Ribeiro e antes ainda de Piratini. Alguém explicou que nem sempre o nome da
Estação coincidia com o nome da Vila. Seguindo o passeio, chegamos ao rio, havia
um local onde a passagem era fácil naquela época do ano. Um dos adultos lembrou
que antes da ponte este era um dos locais de passagem mais fácil, chamado Passo
Maria Gomes e relatou um fato curioso: - “O dono da Sesmaria do lado de
Cerrito, Manoel Gomes, morreu afogado quando tentou atravessar este local em
época de cheia, pois seu cavalo sucumbiu à força da correnteza e cavalo e
cavaleiro, mais todo o dinheiro que levava para comprar as terras onde hoje
está Pedro Osório, desapareceu no rio”.
Em ambas as margens havia uma densa
mata ciliar que impedia assoreamento do rio e o mantinha em seu leito. Por
entre esta mata e através do rio chegamos à olaria. O tijolo recém feito e
ainda não queimado ficava dentro de um enorme galpão, aliás, um bom número
destes tijolos eram danificados pelas nossas tropelias e brincadeiras. Tudo isto sob o olhar bondoso
e condescendente do tio Ito.
Antes do almoço, um suculento
churrasco com fogo de chão, íamos todos ao banho no rio e alguns aproveitavam
para pescar (naquela época havia peixes em abundância), traíras, jundiás,
lambaris e até algum dourado era pescado.
O resto da tarde era de prosa,
brincadeiras e explorações nos matos para colher pitangas e araçás. De bolsos e
bonés cheios de frutos, retornávamos à Olimpo. Depois de tanta farra, a noite
chegava depois do sono e os sonhos eram enriquecidos com aquele inesquecível
contato com a natureza. Natureza que só ficou em nossos sonhos.