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sábado, 22 de setembro de 2012

DE OLIMPO A CERRITO, UM PASSEIO DE CARRETA DE BOIS.


 
Neiff Satte Alam

 

O verão deste ano promete ser muito quente, pois estamos no primeiro dia de janeiro do ano de 1956 e a temperatura já chegou aos 30 graus. Somos um grupo de crianças, seis ao todo e alguns adultos a sombra de um cinamomo, árvore também conhecida como paraíso, aliás, antes de ser vila Olimpo, quando esta localidade foi elevada a Vila, o nome  era Paraíso, mas como já existia uma outra Vila, mais antiga, com este nome, entenderam de denominar de Olimpo, que também seria uma morada dos deuses, embora o anterior nome se devesse ao nome da árvore e nada a ver com o paraíso bíblico.

            Bem, voltando ao grupo à sombra do cinamomo, ou paraíso, como queiram, ali estávamos reunidos aguardando o nosso transporte que tinha sido enviado pelo tio Ito, morador do outro lado do rio Piratini, na Vila Cerrito, e que aguardava-nos, como anualmente acontecia para um churrasco em sua olaria a beira do rio.

            O meio de transporte era uma carreta puxada por dois bois gigantescos aos nossos olhos de crianças, firmemente amarrados a uma canga de madeira grosseira e de construção artesanal..

            Subimos todos fazendo uma enorme algazarra e lentamente, rangendo e balançando, a carreta foi se deslocando em direção ao rio Piratini. Passamos pela Estação Ferroviária onde se lia o nome de Olimpo, mas nem sempre foi assim, antes esta Estação era denominada de Ivo Ribeiro e antes ainda de Piratini. Alguém explicou que nem sempre o nome da Estação coincidia com o nome da Vila. Seguindo o passeio, chegamos ao rio, havia um local onde a passagem era fácil naquela época do ano. Um dos adultos lembrou que antes da ponte este era um dos locais de passagem mais fácil, chamado Passo Maria Gomes e relatou um fato curioso: - “O dono da Sesmaria do lado de Cerrito, Manoel Gomes, morreu afogado quando tentou atravessar este local em época de cheia, pois seu cavalo sucumbiu à força da correnteza e cavalo e cavaleiro, mais todo o dinheiro que levava para comprar as terras onde hoje está Pedro Osório, desapareceu no rio”.

            Em ambas as margens havia uma densa mata ciliar que impedia assoreamento do rio e o mantinha em seu leito. Por entre esta mata e através do rio chegamos à olaria. O tijolo recém feito e ainda não queimado ficava dentro de um enorme galpão, aliás, um bom número destes tijolos eram danificados pelas nossas tropelias  e brincadeiras. Tudo isto sob o olhar bondoso e condescendente do tio Ito.

            Antes do almoço, um suculento churrasco com fogo de chão, íamos todos ao banho no rio e alguns aproveitavam para pescar (naquela época havia peixes em abundância), traíras, jundiás, lambaris e até algum dourado era pescado.

            O resto da tarde era de prosa, brincadeiras e explorações nos matos para colher pitangas e araçás. De bolsos e bonés cheios de frutos, retornávamos à Olimpo. Depois de tanta farra, a noite chegava depois do sono e os sonhos eram enriquecidos com aquele inesquecível contato com a natureza. Natureza que só ficou em nossos sonhos.