PAULO F. M. PACHECO
Professor aposentado.
Pelotas,RS
“Quem semeia ventos”...
A frase em destaque, publicada na Seção Cartas de um jornal, obviamente inconclusa, reclama o complemento: “Colhe tempestades”... Mas qual será a tempestade que se anuncia? Uma resposta fulminante nas urnas ou uma “suave” revolução cruenta? O íntegro governador Ildo Meneghethi, com a coragem cívica e a elegância mental que lhe eram peculiares, precedeu-nos em afirmar: “Sou contra todas as revoluções feitas neste país”.
Por sinal, a avalanche de mensagens conspiratórias, que correm pela Internet, não tem similar nos anais do hebetismo, roça à indelicadeza até para aqueles que têm uma posição de medianidade perfeita entre governo e oposição. Essas assacadilhas não prosperariam durante a ditadura, haja vista a presença do CENSOR, qual um corpo estranho, que se instalava na redação dos jornais, a impor silêncio ao único animal que fala: o homem.
Os sociólogos não podem ignorar, na condição de profetas do que já aconteceu, que o pior governo ainda é bem melhor do que a melhor das revoluções. Menos podem ainda, cotejar milhares de crimes de diversa tipificação, com 136 “desaparecimentos” ensejados por convicções políticas. Ademais, de onde promanam esses dados estatísticos? Como ignorarmos que todo fenômeno de patologia social semelha um iceberg, a esconder, no fundo das águas fundas, o real tamanho das atrocidades cometidas?
Comumente deflagradas por idealistas, as revoluções perdem o rumo e acabam devorando os próprios filhos. Causam mais danos psíquicos aos patrícios do que uma guerra externa, dando ensanchas, também, a que indivíduos de mau caráter, capazes das ações mais abomináveis se infiltrem na cadeia de comando.
No momento em que alguns povos, na ânsia de fazerem sua recopilação histórica, exumam louçaria ou recolhem restos de batalhas, cresce-nos a impressão de que nos resta cada vez menos tempo para que, na condição de testemunhas oculares, expliquemos o porquê das baionetas “caladas” terem se transformado em baionetas “falantes”. Testemunhas presenciais, basta assumirmos o compromisso com a verdade. Compromisso que é, sobretudo, com as gerações vindouras, para que não permaneçam tão alheias como a atual, que por desencanto ou falta de estímulo parece não se interessar por mais nada.
Já decorreram 45 anos daquele movimento de 1964, tempo suficiente para que nosso testemunho seja isento de paixões. “E depoimento é depoimento, quem quiser que o conteste e dê sua versão” – pontificou Carlos Lacerda.
Durante o período de exceção, presenciamos tanto vilanias quanto assomos de grandeza, que merecem ser relatados. Necessário ouvirmos a direita e a esquerda, afastarmos os facciosismos, para que não mais se diga que ninguém logrou mudar tanto o curso da História como os historiadores.