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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Almas perdidas

Neiff Satte Alam

“...Não há duas pessoas iguais no universo. Mas o individualismo é prejudicial. Uma pessoa individualista quer que o mundo gire em torno de sua órbita, sua satisfação está em primeiro lugar, mesmo se isso implicar o sofrimento dos outros.” (Augusto Cury)



O sol ia surgindo no horizonte daquela cidade. Um céu avermelhado encimado por nuvens escuras que davam um aspecto de “feio-bonito” ao amanhecer. Sobre o asfalto ainda úmido e frio estava estirado, sem vida, pois o manto da morte me cobria por inteiro. Os primeiros transeuntes, chocados com meu corpo, não apenas por estar sem vida, mas pelo aspecto de uma deterioração que iniciou antes da morte, ficaram estáticos olhando a cena. Não me viam, somente eu os via, sentia a dor daqueles olhares de estranhos que emitiam opiniões de lástima por ter alguém chagado àquele estado de degradação.

Enquanto aquele grupo se formava e dizia as coisas mais estranhas, mas verdadeiras, comecei a lembrar o quanto fui feliz antes de me entregar ao vicio e ceder aos conselhos ruins de amigos (?) que mandavam provar das mais estranhas e perigosas drogas, mas que jamais, segundo eles, fariam algum mal.

O sorriso alegre e de esperança em um futuro promissor que meus pais esboçavam a cada nota mais alta na Escola ou a um elogio de algum amigo ou professor, ecoava na minha mente sem corpo enquanto olhava meu corpo sem mente, prostrado como se fosse um mendigo de afeto e de carinho. Meus olhos espirituais fixaram os olhos materiais sem vida e, como um espelho, refletiram dias em que festas de aniversário organizadas por minha mãe e tias identificavam um amor incondicional, enorme e uma esperança de que seria um homem de bem e retribuiria todo o carinho ali depositado quando adulto.

Tentei fugir, mas não consegui. Tentei não olhar, mas meus olhos espirituais não tinham pálpebras. O choro era apenas uma dor, não havia lágrimas. Não podia me desculpar pela dor que causara e que ainda causaria, pois, mesmo nestas condições, meus familiares e amigos chorariam as lágrimas que não possuo mais. Gritos e lamentos teriam que ouvir e não poderia dizer nada, somente sofrer todas aquelas dores que causei, todo o sofrimento e decepções de pais que apostaram em mim.

Vi meu corpo ser enrolado em uma lona preta e colocado em um veículo para ser levado. As pessoas ainda ficaram no local, chocadas, tristes e maldizendo a todo este círculo de tráfico, distribuição e uso de drogas que permeia pela sociedade como uma víbora sedenta de almas. Vi meus pais em estado de choque recolhendo restos de meus trapos que sobraram junto ao corpo, seus olhos estavam tão sem vida quanto os meus e a dor que experimentavam era incurável e os acompanharia até o dia de suas mortes. Antes de desaparecer sobre o manto negro da morte, virei-me e li o que estava escrito no muro: DROGAS, NUNCA MAIS!