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segunda-feira, 13 de junho de 2011

CONEXÕES

NEIFF SATTE ALAM

Durante a noite, quando a maior parte da população humana de Pelotas dorme, os espaços começam a ser ocupados por dezenas de animais que têm como hábito se despertarem com a ausência do sol. Corujas, morcegos, vários tipos de insetos, gatos, ratos e outros tantos animais saem em busca de alimento e de parceiros para se reproduzirem.

Dos sótãos dos casarões antigos, dos campanários e dos galhos de árvores e arbustos, caçadores esfomeados iniciam a captura de suas vítimas, muitas vezes caçadores que se transformam em caça. Revoadas de morcegos consomem milhares de insetos em pleno vôo; corujas, em vôos solitários e silenciosos, apenas quebrado por discretos “pios”, dão rasantes sobre a ratazana que se aventura nas sarjetas em busca de alimento, prende-a com suas garras fortes e, rasgando suas entranhas, sacia a fome.

Gatos, com suas pupilas dilatadas ao máximo, disputam os ratos com as corujas, mas não deixam de saborear suculentos grilos, gafanhotos e baratas. Pequenas lagartixas de grandes olhos, quase transparentes, desafiam a lei da gravidade caminhando pelas paredes, pelos troncos das árvores e pelos telhados, em sua caminhada, se não tiverem o azar de encontrar algum gato, vão consumindo dezenas de mosquitos, moscas e aranhas.

Esta grande cadeia alimentar que vai se desenhando com o avançar da noite não é casual, nem fora dos planos naturais de equilíbrio dinâmico e de manutenção em números satisfatórios de todos estes animais envolvidos nesta festança gastronômica noturna.

Enquanto dormimos, a natureza vai cumprindo seu papel de manter vivo e em equilíbrio nosso Planeta. Todos estes exemplos citados se constituem em uma ínfima amostra do que ocorre nas 24 horas do dia e dia após dia longe, na maioria das vezes, dos nossos olhos ou de qualquer um de nossos sentidos. Este involuntário afastamento destes fatos naturais faz com que não percebamos sua importância na própria manutenção de nossa saúde individual e ambiental. Não percebermos esta rede interconectada entre todos os seres vivos e principalmente que fazemos parte desta rede, transforma-nos em vítimas das nossas próprias ações que, sendo inconseqüente e muitas vezes de equivocada esperteza, desarmonizam e desequilibram o suporte de vida com que nos brinda o ecossistema.

Se olharmos o Planeta Terra de fora, perceberemos que nenhuma de suas partes, desde as microscópicas bactérias até as gigantescas sequóias, é dispensável; perceberemos que o clima, com todas suas variações, segue regras planetárias bem definidas e que, se sofrerem quaisquer alterações por agentes externos, comprometerão todo o resto; perceberemos que, mesmo que todo o processo evolutivo ocorra pelo acaso, pelos erros e incertezas da e na própria natureza, existe uma busca permanente de se manter em processo de auto-organização.

Logo, sempre que alterarmos este estado de equilibro por necessidade de sobrevivência de nossa própria espécie teremos que ter o cuidado de avaliar as conseqüências e minimizar os impactos. Caso isto não seja feito, os benefícios aparentes serão sufocados por enormes prejuízos e, na pior das hipóteses, uma catástrofe ecológica de dimensões inimagináveis.