Neiff Satte Alam
Foguetes com ogivas destruidoras cruzaram, cruzam e ainda cruzarão por muito tempo os céus de todos os continentes. Ruídos ensurdecedores, fogo, estilhaços, prédios desmoronando e corpos sangrando, mutilados e muitos já sem vida. Fome, sede, perda da dignidade e perda da esperança é o resultado destas atrocidades cometidas por governos que se consideram acima do bem e do mal.
Populações inteiras são dizimadas ou colocadas na marginalidade do planeta, os judeus de ontem são os palestinos de hoje, o fanatismo religioso ultrapassa os limites do bom senso e da lógica, os céus de Cabul, de Bagdá, de Kosovo e de tantas outras cidades pelo mundo todo transformaram-se no inferno das bombas arremessadas com o destino certo de eliminar populações inteiras como se os seres humanos fossem peças descartáveis e substituíveis.
Uma “ciência sem rosto” a serviço de senhores inescrupulosos, que se dedicam a traçar o destino da humanidade pela força das armas, cria os instrumentos da morte e da dor. O conhecimento acumulado pela humanidade por séculos é capaz de causar mais sofrimento e dor do que resolver os problemas do homem como a fome e as doenças.
Sentamo-nos frente a um aparelho de televisão e vemos, em tempo real e com som local, a destruição lenta e progressiva de civilizações que formaram o nascedouro da civilização atual. As pessoas sendo imoladas como se um ritual de sacrifício humano fosse necessário para provar quem é mais forte ou quem tem o poder de decidir o destino da humanidade.
Mas tudo isto não se iguala ao sofrimento que se percebe nos olhos das crianças. Crianças judias, palestinas, afegãs, iraquianas e todas as demais. Em meio aos escombros, junto aos cadáveres dos pais e de seus irmãos, no frio da noite ou no calor de um sol por vezes implacável ou no colo de suas mães em desespero sempre se vê os inocentes olhos das crianças, olhos que não sabem mais chorar, olhos que transmitiram aos seus pequenos cérebros as imagens do terror, olhos que pedem ajuda, proteção e em desespero fazem orações que só seus pequenos coraçõezinhos poderão dizer, pois não se traduzem em palavras de nenhum idioma, mas que em qualquer idioma se poderá entender.
Crianças com seus olhos tristes, lábios selados e sem forças para chorar, que poderiam ter nascido em qualquer lugar do mundo, mas que selaram seus destinos em lugares transfigurados pela guerra insana, pelo domínio do fanatismo irracional e pela disputa entre quem tem mais força e poder. Crianças que são o patrimônio da humanidade. Quando os foguetes cruzarem os céus com suas ogivas mortíferas os destinos de milhões de crianças no mundo inteiro estará selado, pois estarão levando a morte do futuro, futuro representado pelas crianças de hoje, crianças de olhar triste de olhos que não conseguem mais chorar...